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O Domingo da Ressurreição foi um dia terrível na vida dos apóstolos; dez deles passaram a maior parte desse dia na sala de cima, com as portas fechadas. Eles poderiam ter saído de Jerusalém, mas receavam ser presos pelos agentes do sinédrio, caso fossem encontrados nas ruas. Tomé estava remoendo-se sozinho com os seus problemas, em Betfagé. Ele teria feito melhor, se tivesse permanecido com os seus companheiros apóstolos, pois podia tê-los ajudado a dirigir as suas discussões por caminhos mais úteis.
Durante todo o dia, João alimentou a idéia de que Jesus tinha ressuscitado dos mortos. Ele lembrou que, em nada menos do que cinco vezes diferentes, o Mestre afirmara que ressuscitaria e que em pelo menos três vezes ele aludira ao terceiro dia. A atitude de João tinha uma influência considerável sobre todos, e especialmente sobre o seu irmão Tiago e sobre Natanael. João os teria influenciado mais se não fosse ele o membro mais jovem do grupo.
O isolamento deles tinha muito a ver com os seus problemas. João Marcos mantinha-os em contato com os acontecimentos no templo e informava-lhes sobre os muitos rumores que se difundiam na cidade, mas não ocorreu a ele reunir notícias sobre os grupos diferentes de crentes, para os quais Jesus tinha já aparecido. Esse era o tipo de serviço que até então havia sido prestado pelos mensageiros de Davi, mas eles todos estavam fora, no seu último compromisso como arautos da ressurreição, junto àqueles grupos de crentes que moravam longe de Jerusalém. Pela primeira vez, em todos esses anos, os apóstolos compreenderam o quanto eles dependiam dos mensageiros de Davi para a sua informação diária, a respeito dos assuntos do Reino.
Como era já típico nele, durante todo o dia, Pedro vacilou emocionalmente, entre a fé e a dúvida, a respeito da ressurreição do Mestre. Pedro não podia esquecer a visão das mortalhas dispostas na tumba, como se o corpo de Jesus tivesse evaporado de dentro delas. “Mas”, raciocinava Pedro, “se ele ressuscitou e se ele pôde mostrar-se às mulheres, porque não se mostra a nós, seus apóstolos?” Pedro ficava cada vez mais pesaroso, quando pensava que talvez Jesus não tivesse vindo a eles devido à sua presença entre os apóstolos, porque ele havia negado a Jesus, naquela noite no pátio de Anás. E então ele reconfortava-se com as palavras trazidas pelas mulheres: “Ide contar aos meus apóstolos – e a Pedro”. Contudo, encontrar encorajamento nessa mensagem implicava que ele tivesse de acreditar que as mulheres tinham realmente visto e ouvido o Mestre ressuscitado. Assim, Pedro alternou-se entre a fé e a dúvida, durante o dia inteiro, até um pouco depois das oito horas, quando se aventurou a ir até o pátio. Pedro pensava em separar-se dos apóstolos para não impedir que Jesus viesse até eles, por causa da sua renegação ao Mestre.
Tiago Zebedeu, a princípio, defendia que deviam todos ir até a tumba; era firmemente a favor de fazer algo para ir ao fundo do mistério. Foi Natanael
que os impediu de irem a público, como queria Tiago, e ele o fez relembrando-lhes da advertência de Jesus contra colocar em perigo indevidamente as próprias vidas nesses momentos. Por volta do meio-dia, Tiago tinha deixado estabelecido, com os outros, que todos aguardariam mantendo-se vigilantes. Ele pouco falou; estava tremendamente desapontado porque Jesus não se mostrara a eles, e não sabia das muitas aparições do Mestre aos outros grupos e indivíduos.
André prestou muita atenção a tudo nesse dia. Estava excessivamente perplexo com a situação e se, de dúvidas ele as tinha mais do que as suas próprias, no entanto ao menos desfrutava de um certo sentimento de liberdade em relação às responsabilidades de ter de liderar os seus companheiros apóstolos. Ele estava de fato grato por ter sido liberado pelo Mestre do peso da liderança, antes de cair nesse período de desorientação.
Mais do que uma vez, durante as horas longas e estafantes desse dia trágico, a única influência que dava força ao grupo era a contribuição freqüente do conselho filosófico característico de Natanael. Ele fora realmente a influência controladora sobre os dez, durante todo o dia. Nem por uma vez ele se exprimiu a si próprio, a respeito de crer ou não crer na ressurreição do Mestre. Mas, à medida que o dia passava, ele ficava cada vez mais inclinado a acreditar que Jesus tinha cumprido a sua promessa de ressurreição.
Simão zelote estava por demais oprimido para participar das discussões. A maior parte do tempo ele ficava reclinado em um estofado, a um canto da sala, com o rosto voltado para a parede; ele não havia falado mais do que meia dúzia de vezes durante todo o dia. O conceito que fazia do Reino tinha ido por terra, e ele não podia vislumbrar que a ressurreição do Mestre poderia materialmente mudar a situação. O seu desapontamento era por demais pessoal e ao mesmo tempo demasiadamente agudo para conseguir recuperar-se logo, mesmo diante de um fato tão estupendo quanto a ressurreição.
Ainda que pareça estranho, Filipe, que geralmente expressava-se pouco, falou muito durante a tarde desse dia. Pouco disse pela manhã, mas durante toda a tarde fez perguntas aos outros apóstolos. Pedro sempre ficava irritado com as perguntas de Filipe, mas os outros as encaravam com bom humor. Filipe estava particularmente desejoso de saber, no caso de Jesus ter realmente saído da tumba, se o seu corpo traria as marcas físicas da crucificação.
Mateus estava bastante confuso; escutava as discussões dos seus companheiros, mas passava a maior parte do tempo repassando mentalmente o problema futuro das finanças deles. À parte a suposta ressurreição de Jesus, Judas fora embora; Davi tinha passado sem a menor cerimônia os fundos para ele; e estavam todos sem um líder com autoridade. E antes de chegar a considerar seriamente os argumentos dos demais sobre a ressurreição, Mateus tinha já visto o Mestre face a face.
Os gêmeos Alfeus participavam pouco dessas discussões sérias; estavam bastante ocupados com as suas ministrações costumeiras. Um deles expressou a atitude de ambos quando disse, em resposta a uma pergunta feita por Filipe: “Nós não compreendemos a ressurreição, mas a nossa mãe diz que falou com o Mestre, e nós acreditamos nela”.
Tomé estava em meio a um dos seus típicos ataques de depressão desesperada. Dormiu uma parte do dia e caminhou pelas colinas no resto do tempo. Sentia uma grande necessidade de unir-se aos seus amigos apóstolos, mas o desejo de ficar só era mais forte.
O Mestre retardou a sua primeira aparição moroncial aos apóstolos por várias razões. Primeira, ele queria que eles tivessem tempo, depois de terem ouvido sobre a sua ressurreição, de pensar bem sobre o que ele lhes dissera sobre a sua morte e
sobre a ressurreição quando ainda estava com eles na carne. O Mestre queria que Pedro vencesse algumas das dificuldades que lhe eram peculiares, antes de manifestar-se a todos eles. Em segundo lugar, desejava que Tomé estivesse com eles no momento da sua primeira aparição. João Marcos localizou Tomé na casa do irmão de Simão em Betfagé, nesse domingo pela manhã, trazendo uma informação sobre isso aos apóstolos, por volta das onze horas. A qualquer hora durante esse dia, Tomé teria voltado até eles, se Natanael ou quaisquer dois outros apóstolos tivessem ido buscá-lo. Ele realmente queria retornar, mas tendo saído como o fez, na noite anterior, era orgulhoso demais para voltar por sua própria conta tão cedo. No dia seguinte, ele estava tão deprimido que demorou quase uma semana para tomar a decisão de retornar. Os apóstolos esperavam por ele, e ele desejava que os seus irmãos o procurassem e lhe pedissem para voltar. Tomé, assim, permaneceu longe dos seus companheiros até o próximo sábado à noite, quando, depois que caiu a noite, Pedro e João foram a Betfagé e o trouxeram de volta. E essa também era uma razão pela qual eles não foram imediatamente para a Galiléia, depois que Jesus apareceu pela primeira vez para eles; eles não iriam sem Tomé.
Eram quase oito e meia da noite desse domingo quando Jesus apareceu para Simão Pedro no jardim da casa de Marcos. Essa foi a sua oitava manifestação moroncial. Pedro estivera vivendo sob uma pesada carga de dúvida e de culpa, desde que havia negado o Mestre. Durante todo o dia de sábado e nesse domingo, ele lutou contra o medo de que talvez não fosse mais um apóstolo. Estava tremendo de horror pela sorte de Judas e chegou mesmo a pensar que também ele havia traído o seu Mestre. Durante toda essa tarde ele pensou que poderia ser a sua presença junto aos apóstolos que estivesse impedindo Jesus de aparecer para eles, desde, claro está, que ele tivesse ressuscitado dos mortos. E foi para Pedro, em tal estado mental e de alma, que Jesus apareceu enquanto o apóstolo deprimido perambulava entre as flores e os arbustos.
Quando Pedro pensou no olhar amoroso do Mestre ao passar pelo portal de Anás, e enquanto remoía na sua mente aquela mensagem maravilhosa que foi trazida para ele logo cedo naquela manhã, pelas mulheres que vieram da tumba vazia: “Ide contar aos meus apóstolos – e a Pedro” –, e, assim, enquanto ele contemplava essas demonstrações de misericórdia, a sua fé começou a superar as suas dúvidas, e ele permaneceu quieto, cerrando os punhos, e dizendo em voz alta: “Acredito que ele tenha ressuscitado dos mortos; irei dizer isto aos meus irmãos”. E, ao dizer isso, subitamente apareceu em frente dele a forma de um homem, que dirigiu-se a ele em um tom familiar, dizendo: “Pedro, o inimigo desejou levar-te, mas eu não desistiria de ti. Eu sabia que não era de coração que tu me havias negado; e, portanto, eu o perdoei antes mesmo de me pedires; mas agora tu deves parar de pensar em ti próprio e nas complicações do momento, enquanto te preparas para levar as boas-novas do evangelho para aqueles que estão na escuridão. Não deves mais ficar preocupado com o que possas obter do Reino, mas deves antes te empenhar naquilo que tu podes dar àqueles que vivem em extrema miséria espiritual. Prepara-te, Simão, portanto, para a batalha de um novo dia, para a luta contra as trevas espirituais e as dúvidas malignas das mentes naturais dos homens”.
Pedro e o Jesus moroncial caminharam pelo jardim e conversaram sobre coisas do passado, do presente e do futuro, por quase cinco minutos. Então o Mestre desapareceu da vista dele, dizendo: “Adeus, Pedro; até que eu te veja junto com os teus irmãos”.
Por um momento, Pedro foi vencido pela compreensão de que tinha falado com o Mestre ressuscitado, e que poderia estar certo de que era ainda um embaixador do
Reino. Ele tinha acabado de ouvir o Mestre glorificado exortando-o a ir pregar o evangelho. E, com tudo isso dentro do seu coração, ele correu até a sala de cima e, ante a presença dos seus companheiros apóstolos, em uma excitação resfolegante, exclamou: “Eu vi o Mestre; ele estava no jardim. Falei com ele e ele perdoou-me”.
A declaração de Pedro, de que ele havia visto Jesus no jardim, causou uma profunda impressão nos seus companheiros apóstolos, e eles estavam já quase prontos para acabar com as suas dúvidas quando André levantou-se e os advertiu para que não se deixassem influenciar muito pelo relato do seu irmão. André sugeriu que Pedro tinha já antes visto coisas que não eram reais. E, ainda que André não tivesse feito alusão direta à visão da noite no mar da Galiléia, em que Pedro dizia ter visto o Mestre vindo para eles, caminhando sobre as águas, ainda assim ele disse o suficiente para fazer entender a todos os presentes que ele tinha em mente esse incidente. Simão Pedro ficou muito magoado com a insinuação do seu irmão e imediatamente caiu em um silêncio ressentido. Os gêmeos ficaram condoídos por Pedro, e ambos aproximaram-se para expressar a sua compaixão, e dizer que acreditavam nele, e para reafirmar que a própria mãe deles também tinha visto o Mestre.
Pouco depois das nove horas, naquela noite, depois da partida de Cleofas e Jacó, enquanto os gêmeos Alfeus confortavam Pedro, e Natanael queixava-se de André, e quando os dez apóstolos estavam lá reunidos, na sala de cima, com todas as portas fechadas com o ferrolho, por medo de serem presos; o Mestre, na forma moroncial, subitamente apareceu em meio a eles, dizendo: “Que a paz esteja convosco. Por que ficais tão amedrontados, quando eu apareço, como se tivésseis visto um espírito? Eu não vos disse sobre essas coisas quando estava presente entre vós, na carne? Não vos disse que os sumos sacerdotes e os governantes me entregariam para ser morto, que um de vós me trairia e que, no terceiro dia, me ressuscitaria? De onde, pois, vêm todas as vossas dúvidas e para que toda essa discussão sobre os relatos das mulheres, de Cleofas e de Jacó, e mesmo de Pedro? Por quanto tempo ireis duvidar das minhas palavras e recusar a acreditar nas minhas promessas? E, agora, que de fato me estais vendo, acreditareis? Mesmo agora, um de vós está ausente. Quando estiverdes juntos novamente e depois que todos souberem, com certeza, que o Filho do Homem ressuscitou da tumba, ide então até a Galiléia. Tenhais fé em Deus; tenhais fé uns nos outros; e assim entrareis no novo serviço do Reino do céu. Eu permanecerei em Jerusalém convosco até que estejais prontos para ir à Galiléia. Deixo a minha paz convosco”.
Depois de ter-lhes falado, o Jesus moroncial desapareceu, instantaneamente, da vista deles. E eles todos caíram com os rostos no chão, louvando a Deus e venerando o Mestre, que havia desaparecido. Essa foi a nona aparição moroncial do Mestre.
O dia seguinte, segunda-feira, foi passado totalmente com as criaturas moronciais, então presentes em Urântia. Como participantes da experiência de transição-moroncial do Mestre, tinham vindo para Urântia mais de um milhão de diretores moronciais e colaboradores, junto com mortais de transição de várias ordens dos sete mundos das mansões de Satânia. O Jesus moroncial permaneceu com essas inteligências esplêndidas por quarenta dias. Ele deu-lhes ensinamentos e aprendeu dos seus diretores sobre
a vida de transição moroncial, tal como é vivida pelos mortais dos mundos habitados de Satânia, enquanto passam pelas esferas moronciais do sistema.
Por volta da meia-noite, dessa segunda-feira, a forma moroncial do Mestre estava ajustada para a transição até o segundo estágio da progressão moroncial. Quando voltou a aparecer para os seus filhos mortais na Terra, o fez como um ser moroncial do segundo estágio. Quanto mais o Mestre progredia na carreira moroncial, mais difícil ficava, tecnicamente, para as inteligências moronciais e seus colaboradores transformadores, fazer com que o Mestre ficasse visível diante dos olhos mortais e materiais.
Jesus fez o trânsito para o terceiro estágio moroncial na sexta-feira, 14 de abril; para o quarto estágio na segunda, 17 de abril; para o quinto estágio no sábado, 22 de abril; para o sexto estágio na quinta-feira, 27 de abril; para o sétimo estágio na terça-feira, 2 de maio; para a cidadania de Jerusém no domingo, 7 de maio; e dirigiu-se para o abraço dos Altíssimos de Edêntia no domingo, 14 de maio.
Michael de Nebadon, desse modo, completou o seu serviço de experiência no universo; pois, nas suas auto-outorgas anteriores, já havia experimentado plenamente a vida dos mortais ascendentes do tempo e do espaço, desde a permanência na sede central da constelação mesma até o serviço do superuniverso. E foi por meio dessas mesmas experiências moronciais que o Filho Criador de Nebadon realmente completou, e terminou aceitavelmente, a sua sétima e final auto-outorga no universo.
A décima manifestação moroncial de Jesus, para o reconhecimento mortal, ocorreu um pouco depois das oito horas, na terça-feira, 11 de abril, na Filadélfia, onde ele se mostrou a Abner e a Lázaro e a uns cento e cinqüenta dos seus companheiros, incluindo mais de cinqüenta das setenta pessoas do corpo evangélico. Essa aparição ocorreu pouco depois da abertura de um encontro especial na sinagoga, convocado por Abner para discutir a crucificação de Jesus e os relatos mais recentes da ressurreição, que tinham sido trazidos pelos mensageiros de Davi. Posto que o ressuscitado Lázaro era agora um membro desse grupo de crentes, não se fazia difícil para eles acreditarem nos relatos de que Jesus tinha ressuscitado dos mortos.
A reunião na sinagoga estava sendo aberta por Abner e Lázaro, que se encontravam, de pé, juntos no púlpito, quando toda a audiência de crentes viu a forma do Mestre aparecer subitamente. Ele avançou de onde tinha aparecido, entre Abner e Lázaro, que não haviam observado a sua presença e, saudando a assembléia, disse:
“Que a paz esteja convosco. Todos vós sabeis que temos um Pai nos céus e que não há senão um evangelho do Reino: o das boas-novas da dádiva da vida eterna, que os homens recebem pela fé. Enquanto rejubilais na vossa lealdade ao evangelho, orai ao Pai da verdade para que dissemine nos vossos corações um amor maior pelos vossos irmãos. Deveis amar a todos os homens como eu vos amei; deveis servir a todos os homens como eu vos servi. Com compreensão, compaixão e afeição fraternal, recebei em comunhão a todos os vossos irmãos que estão dedicados à proclamação das boas-novas, sejam eles judeus ou gentios, gregos ou romanos, persas ou etíopes. João proclamou o Reino com antecipação, vós tendes pregado o evangelho em poder; os gregos já pregam as boas-novas; e, em breve, irei enviar o Espírito da Verdade até as almas de todos os meus irmãos
que de uma maneira pouco egoísta têm dedicado as suas vidas ao esclarecimento dos seus companheiros que estão nas trevas espirituais. Sois vós os filhos da luz; portanto, não caiais nos emaranhados do desentendimento da suspeita mortal e da intolerância humana. Se fordes enobrecidos, pela graça da fé, por amardes os que não crêem, não deveríeis também igualmente amar aqueles que são os vossos companheiros e que crêem na família da fé, que está crescendo? Lembrai-vos, na mesma medida em que amardes uns aos outros, todos os homens saberão que sois discípulos meus.
“Ide, então, ao mundo inteiro, proclamar este evangelho da paternidade de Deus e da irmandade dos homens a todas as nações e raças, e sejais sempre sábios na vossa escolha dos métodos para apresentar as boas-novas às raças e tribos diferentes da humanidade. Vós recebestes este evangelho do Reino de graça e do mesmo modo vós dareis as boas-novas a todas as nações. Não temais a resistência do mal, pois estou sempre convosco, até o fim mesmo dos tempos. E a minha paz eu a deixo convosco”.
E ao dizer: “A minha paz eu a deixo convosco”, ele desapareceu da vista de todos. Com exceção de uma das suas aparições na Galiléia, na qual o viram mais de quinhentos crentes de uma só vez, esse grupo na Filadéfia abrangia o maior número de mortais que o viram em uma única ocasião.
Cedo, na manhã seguinte, enquanto os apóstolos ainda permaneciam em Jerusalém aguardando a recuperação emocional de Tomé, esses crentes da Filadélfia saíram para proclamar que Jesus de Nazaré tinha ressuscitado dentre os mortos.
O dia seguinte, quarta-feira, Jesus passou todo o tempo na companhia dos seus companheiros moronciais e, durante as horas do meio da tarde, ele recebeu os delegados moronciais, visitantes dos mundos das mansões de todos os sistemas locais de esferas habitadas, de toda a constelação de Norlatiadeque. E todos se rejubilaram de conhecer o seu Criador, como um da sua própria ordem de inteligências do universo.
Tomé passou uma semana a sós, consigo próprio, nas colinas ao redor do monte das Oliveiras. Durante esse tempo ele viu apenas os que estavam na casa de Simão e João Marcos. Eram nove horas do sábado, 15 de abril, quando os dois apóstolos encontraram-no e o levaram de volta até o ponto de encontro deles, na casa de Marcos. No dia seguinte, Tomé ouviu a narrativa das histórias das várias aparições do Mestre, mas recusou-se firmemente a acreditar. Ele sustentou que Pedro, com o seu entusiasmo, os havia levado todos a pensar que haviam visto o Mestre. Natanael deu-lhe várias razões, mas isso de nada valeu. Havia uma teimosia emocional associada à sua habitual mania de duvidar, e esse estado mental, combinado com a sua tristeza por tê-los abandonado, conspirava para criar uma situação de isolamento que até mesmo o próprio Tomé não entendia totalmente. Ele havia-se separado dos seus companheiros, tomando o seu próprio caminho e, agora, ainda que estivesse de volta ao seio deles, inconscientemente tendia a assumir uma atitude de descontentamento. Ele era vagaroso demais para se render; e não gostava de ceder. Sem ter a intenção, ele realmente estava gostando da atenção que lhe estava sendo dedicada; e experimentava uma satisfação inconsciente pelos esforços que todos os seus companheiros faziam para convencê-lo e convertê-lo. Havia sentido saudades deles por uma semana inteira, e experimentava um prazer considerável com a persistência daquelas atenções.
Estavam todos fazendo a refeição da noite, pouco depois das seis horas, achando-se assentados Pedro, de um lado de Tomé, e Natanael, do outro, quando o apóstolo que duvidava disse: “Não acreditarei, a menos que eu veja o Mestre com os meus próprios olhos e ponha o meu dedo na marca dos pregos”. E estavam sentados assim, nessa ceia,
as portas encontrando-se fechadas e travadas com segurança, quando o Mestre moroncial de súbito apareceu na parte interna da curvatura da mesa e, de pé, diretamente em frente de Tomé, disse:
“A paz esteja convosco. Por uma semana inteira permaneci aqui aguardando poder aparecer novamente quando estivésseis todos presentes, para que pudésseis uma vez mais ouvir sobre a missão de ir a todo o mundo e pregar o evangelho do Reino. E, de novo, eu vos digo: Como o Pai me enviou ao mundo, eu vos envio. Como revelei o Pai, vós revelareis o amor divino, não apenas com palavras, mas na vossa vida diária. Eu vos envio, não para amar as almas dos homens, mas para amar os homens. Vós não ireis apenas proclamar as alegrias dos céus, como também exibireis, na vossa experiência diária, essas realidades espirituais da vida divina, pois, pela fé, já tendes a vida eterna, como uma dádiva de Deus. Se mantiverdes essa fé, quando o poder do alto, o Espírito da Verdade, vier sobre vós, não ireis mais esconder a vossa luz aqui atrás dessas portas fechadas; vós ireis tornar conhecidos o amor e a misericórdia de Deus, para toda a humanidade. Por medo agora fugis dos fatos de uma experiência desagradável, mas, quando houverdes sido batizados pelo Espírito da Verdade, vós ireis, brava e jubilosamente, sair para encontrar as novas experiências de proclamar as boas-novas da vida eterna, no Reino de Deus. Podeis permanecer aqui na Galiléia, por um curto período, enquanto estiverdes recuperando-vos do choque da transição entre a falsa segurança da autoridade do tradicionalismo e a nova ordem da autoridade dos fatos, da verdade e da fé, nas realidades supremas da experiência de viver. A vossa missão para com o mundo está fundada no fato de que eu vivi, no vosso meio, uma vida de revelação de Deus; na verdade de que vós e todos os outros homens sois os filhos de Deus; e que consistirá na vida que vivereis entre os homens – a experiência factual e viva de amar os homens e de servir a eles, do mesmo modo que eu vos amei e servi a vós. Que a fé revele a vossa luz ao mundo; que a revelação da verdade abra os olhos cegos pela tradição; que o vosso serviço de amor destrua efetivamente o preconceito engendrado pela ignorância. Aproximando-vos assim dos vossos semelhantes, em compaixão compreensiva e com uma devoção sem egoísmo, vós ireis conduzi-los ao conhecimento salvador do amor do Pai. Os judeus têm enaltecido a bondade; os gregos têm exaltado a beleza; os hindus têm pregado a devoção; os antigos ascetas têm ensinado a reverência; os romanos têm exigido a lealdade; mas, quanto a mim, quero a vida dos meus discípulos, uma vida mesma a serviço do amor pelos vossos irmãos na carne.”
Depois de dizer essas palavras, o Mestre olhou bem no rosto de Tomé e disse: “E tu, Tomé, que disseste que não acreditarias a menos que pudesses ver-me e colocar o teu dedo nas marcas dos cravos em minhas mãos, agora tu me contemplaste e ouviste as minhas palavras; e embora não vejas nenhuma marca de cravos nas minhas mãos, pois eu ressuscitei na forma que vós também ireis ter quando partirdes deste mundo, o que irás tu dizer aos teus irmãos? Tu irás reconhecer a verdade, pois no teu coração tu já começaste a crer, mesmo quando tão resolutamente afirmaste que não acreditarias. As tuas dúvidas, Tomé, do mesmo modo obstinado que se afirmam, elas também desaparecem. Tomé, eu peço-te que não te falte a fé, mas que acredites – e eu sei que tu acreditarás, e ainda de todo o coração”.
Quando Tomé ouviu essas palavras, ele caiu de joelhos diante do Mestre moroncial e exclamou: “Eu creio! Meu Senhor e meu Mestre!” E então Jesus disse a Tomé: “Tu creste, Tomé, porque me viste e me ouviste realmente. Abençoados sejam aqueles que, nas idades que virão, acreditarão mesmo que não tenham visto com os olhos da carne e escutado com os ouvidos mortais”.
E então, enquanto a forma do Mestre movia-se para mais perto da cabeceira da mesa, ele dirigiu-se a todos, dizendo: “E agora ide todos para a Galiléia, onde eu irei em breve aparecer para vós”. E depois de ter dito isso ele desapareceu da vista deles.
Agora os onze apóstolos estavam totalmente convencidos de que Jesus tinha ressuscitado dos mortos e, muito cedo na manhã seguinte, antes do nascer do dia, eles partiram para a Galiléia.
Enquanto os onze apóstolos estavam a caminho da Galiléia, chegando ao fim da sua viagem, na terça-feira, 18 de abril, por volta das oito e meia da noite, Jesus apareceu para Rodam e mais oitenta outros crentes, em Alexandria. Essa foi a décima segunda aparição do Mestre, na forma moroncial. Jesus apareceu diante desses gregos e judeus no exato momento em que o relato sobre a crucificação estava sendo concluído por um dos mensageiros de Davi. Esse mensageiro, sendo o quinto da série de corredores de Jerusalém a Alexandria, tinha chegado em Alexandria mais tarde e, imediatamente depois de ter a sua mensagem entregue a Rodam, ficou decidida uma convocação dos crentes para receberem, do próprio mensageiro, essa palavra trágica. Por volta das oito horas, o mensageiro, Natam, de Busiris, veio diante desse grupo e contou com detalhes tudo o que tinha sido dito a ele pelo corredor anterior. Natam terminou a sua narrativa tocante com estas palavras: “Mas Davi, que nos envia estas palavras, relata que o Mestre, ao prever a sua morte, declarou que iria ressuscitar”. E mal Natam falou, o Mestre moroncial apareceu ali, para ser visto plenamente por todos. E quando Natam sentou-se, Jesus disse:
“Que a paz esteja convosco. Aquilo para o que o meu Pai enviou-me a este mundo, para que ficasse estabelecido, não se refere apenas a uma raça, a uma nação nem a um grupo especial de instrutores ou de pregadores. Este evangelho do Reino pertence aos judeus tanto quanto aos gentios, aos ricos tanto quanto aos pobres, aos livres e aos prisioneiros, aos homens e mulheres e até mesmo às crianças pequenas. E vós todos deveis proclamar este evangelho, de amor e de verdade, por meio da vida que viveis na carne. Vós deveis amar uns aos outros com um afeto novo e surpreendente, assim como eu vos tenho amado. Vós servireis à humanidade com uma devoção estupenda, assim como eu tenho servido a vós. E, quando os homens vos virem amando-os assim, e quando eles contemplarem o modo fervoroso com o qual servis a eles, perceberão que vós vos tornastes companheiros de fé do Reino do céu, e seguirão o Espírito da Verdade que vêem nas vossas vidas, para encontrarem a salvação eterna.
“Assim como o Pai enviou-me a este mundo, assim agora eu vos envio. Vós sois todos chamados a levar as boas-novas até aqueles que se encontram nas trevas. Esse evangelho do Reino pertence a todos que acreditam nele; e não será entregue apenas à custódia dos sacerdotes. Logo, o Espírito da Verdade virá sobre vós, e vos conduzirá a toda a verdade. Ide, portanto, em pregação deste evangelho, por todo o mundo e considerai sempre que eu estou convosco, até o fim mesmo dos tempos”.
Depois de ter falado assim, o Mestre desapareceu da vista de todos. Toda noite aqueles crentes permaneceram juntos ali, rememorando as próprias experiências, como crentes do Reino, e escutando as muitas palavras de Rodam e dos seus colaboradores. E todos eles acreditaram que Jesus tinha ressuscitado dos mortos. E podeis imaginar a surpresa do arauto de Davi, com a nova da ressurreição, que chegou dois dias depois de tudo isso, quando eles responderam ao seu anúncio dizendo: “Sim, sabemos, pois nós o vimos. Ele apareceu para nós anteontem”.