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O LIVRO DE URANTIA


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DOCUMENTO 101

A NATUREZA REAL DA RELIGIÃO

A religião, enquanto experiência humana, estende-se desde a escravidão primitiva do medo, no selvagem em evolução, até a liberdade sublime e magnífica da fé, naqueles mortais civilizados que se acham esplendidamente conscientes da sua filiação ao Deus eterno.

A religião é ancestral das éticas avançadas e da moral superior, na evolução social progressiva. Contudo, a religião, como tal, não é meramente um movimento moral, embora as suas manifestações exteriores e sociais sejam fortemente influenciadas pelo momentum ético e moral da sociedade humana. A religião é sempre a inspiração da natureza do homem que evolui, mas não é o segredo dessa evolução.

A religião, a convicção-fé da personalidade, pode sempre triunfar sobre a lógica superficialmente contraditória do desespero que nasce na mente material incrédula. Há realmente uma voz interior verdadeira e genuína, aquela “luz verdadeira que ilumina a todos os homens que vêm ao mundo”. E esse guiamento do espírito é diferente da conclamação ética da consciência humana. O sentimento de segurança religiosa é mais do que um sentimento emocional. A segurança da religião transcende à razão da mente, e mesmo à lógica da filosofia. A religião é fé, confiança e segurança.

1. A VERDADEIRA RELIGIÃO

A verdadeira religião não é um sistema de crença filosófica que possa ser deduzido pela razão, nem consubstanciado por provas naturais, nem é uma experiência fantástica e mística de sentimentos indescritíveis de êxtase a serem desfrutados apenas pelos devotos românticos do misticismo. A religião não é produto da razão, mas, quando vista do seu interior, ela é plenamente racional. A religião não se deriva da lógica da filosofia humana, mas, como uma experiência mortal, é plenamente lógica. A religião é a experiência da divindade pela consciência de um ser moral de origem evolucionária; representa a verdadeira experiência com as realidades eternas no tempo, a realização das satisfações espirituais enquanto ainda na carne.

Os Ajustadores do Pensamento não têm nenhum mecanismo especial por meio do qual ganhar auto-expressão; não há nenhum atributo religioso místico que proporcione a recepção ou a expressão das emoções religiosas. Tais experiências tornam-se disponíveis por meio do mecanismo naturalmente dotado da mente mortal. E nisso repousa uma explicação da dificuldade do Ajustador de entrar em comunicação direta com a mente material da sua residência constante.

O espírito divino faz contato com o homem mortal, não por sentimentos nem emoções, mas no domínio do pensamento mais elevado e mais espiritualizado. São os vossos


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pensamentos, não os vossos sentimentos, que vos conduzem a Deus. A natureza divina pode ser percebida apenas com os olhos da mente. No entanto, a mente que realmente discerne Deus, que escuta o Ajustador residente, é a mente pura. “Sem consagrar-se, nenhum homem pode ver o Senhor.” Toda essa comunhão interior e espiritual é chamada discernimento espiritual. Tais experiências religiosas resultam da impressão feita na mente do homem pelas atuações combinadas do Ajustador e do Espírito da Verdade, funcionando entre e sobre as idéias, os ideais, sobre a visão interior e sobre os esforços espirituais dos filhos de Deus em evolução.

A religião vive e prospera, assim, não pela visão, nem pelo sentimento, mas antes pela fé e pelo discernimento interior. Não consiste na descoberta de fatos novos, nem no que se encontra por meio de uma experiência única, mas antes na descoberta de significados novos e espirituais nos fatos já bem conhecidos da humanidade. A mais elevada experiência religiosa não depende de ações anteriores de crença, de tradição e de autoridade; nem é a religião filha de sentimentos sublimes e de emoções puramente místicas. É, antes, uma experiência profunda e factual de comunhão espiritual, com as influências do espírito residente dentro da mente humana e, tanto quanto essa experiência pode ser definível em termos de psicologia, é simplesmente a experiência de vivenciar a realidade de crer em Deus como a realidade desse evento puramente pessoal.

Conquanto a religião não seja produto de especulações racionalistas de uma cosmologia material, ela é, entretanto, a criação de um discernimento interior plenamente racional que se origina na experiência da mente do homem. A religião não nasce de meditações místicas, nem de contemplações isoladas, ainda que seja mais ou menos misteriosa e sempre indefinível e inexplicável, em termos de uma razão puramente intelectual ou de uma lógica filosófica. Os germes da verdadeira religião originam-se no âmbito da consciência moral do homem e são revelados no crescimento do discernimento interior espiritual do homem: aquela faculdade da personalidade humana que se torna acrescida em conseqüência da presença do Ajustador e que revela Deus à mente mortal sedenta Dele.

A fé une o discernimento moral à discriminação conscienciosa dos valores, e o sentido do dever evolucionário preexistente completa o ancestral da verdadeira religião. A experiência da religião, finalmente, resulta em uma consciência firme de Deus e em uma segurança inquestionável da sobrevivência da personalidade que acredita.

Assim, pode-se perceber que as aspirações religiosas e os impulsos espirituais não são de uma natureza tal que levaria meramente os homens a querer crer em Deus mas são, antes, de uma natureza e um poder tal que os homens ficam profundamente impressionados com a convicção de que deveriam acreditar em Deus. O sentido do dever evolucionário e as obrigações conseqüentes da iluminação da revelação causam uma impressão tão profunda sobre a natureza moral do homem, que ele finalmente alcança aquela posição de mente e aquela atitude de alma por meio das quais ele conclui que não tem direito de não acreditar em Deus. A sabedoria mais elevada e suprafilosófica dos indivíduos esclarecidos e disciplinados instrui-os, em ultimidade, que duvidar de Deus ou não confiar na Sua bondade seria uma prova de infidelidade para com a coisa mais real e mais profunda dentro da mente e da alma humana – o Ajustador divino.

2. A RELIGIÃO COMO UM FATO

A realidade da religião consiste inteiramente na experiência religiosa de seres humanos racionais e comuns. E é nesse sentido, unicamente, que a religião poderia ser


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considerada como científica ou mesmo psicológica. A prova de que a revelação é revelação, é esse mesmo fato da experiência humana: o fato de que a revelação sintetiza as ciências da natureza, aparentemente divergentes, bem como sintetiza a teologia da religião numa filosofia, consistente e lógica, do universo, uma explicação coordenada e contínua da ciência e da religião, criando, assim, uma harmonia de mente e uma satisfação de espírito que respondem, para a experiência humana, àqueles questionamentos da mente mortal a qual almeja saber como o Infinito opera a sua vontade e os seus planos na matéria, com as mentes e dentro do espírito.

A razão é o método da ciência; a fé é o método da religião; a lógica é a técnica com que a filosofia tenta lidar. A revelação compensa a ausência do ponto de vista moroncial, fornecendo uma técnica para alcançar a unidade na compreensão da realidade e das relações entre a matéria e o espírito, pela mediação da mente. E a verdadeira revelação jamais afasta a ciência da natureza, nem a religião da razão, ou a filosofia da lógica.

A razão, por meio do estudo da ciência, pode levar a natureza até uma Primeira Causa, mas ela requer uma fé religiosa para transformar a Causa Primeira da ciência em um Deus de salvação; e a revelação é ainda requerida para a validação de tal fé, o discernimento espiritual interior.

Há duas razões básicas para crer em um Deus que fomenta a sobrevivência humana:

1. A experiência humana e a certeza pessoal; a esperança e a confiança de algum modo iniciadas e de algum modo registradas pelo Ajustador residente.

2. A revelação da verdade, seja pela ministração direta pessoal do Espírito da Verdade, na auto-outorga neste mundo de Filhos divinos, seja por meio das revelações em palavra escrita.

A ciência completa a sua busca por meio da razão na hipótese de uma Causa Primeira. A religião não pára no seu vôo de fé, até estar segura de um Deus de salvação. O estudo discriminado da ciência sugere logicamente a realidade e a existência de um Absoluto. A religião acredita sem reservas na existência e na realidade de um Deus que fomenta a sobrevivência da personalidade. Aquilo que a metafísica deixa totalmente de fazer, e aquilo que mesmo a filosofia parcialmente fracassa em fazer, a revelação faz; isto é, afirma que essa Primeira Causa da ciência e o Deus da Salvação da religião são uma e a mesma Deidade.

A razão é a prova da ciência, a fé, a prova da religião, a lógica, a prova da filosofia, mas a revelação é validada apenas pela experiência humana. A ciência gera conhecimento; a religião gera felicidade; a filosofia gera a unidade; a revelação confirma a harmonia experiencial dessa abordagem trina da realidade universal.

A contemplação da natureza apenas pode revelar um Deus da natureza, um Deus do movimento. A natureza exibe apenas matéria, movimento e animação – a vida. Matéria mais energia, sob certas condições, manifesta-se em formas vivas, mas, se bem que a vida natural seja assim relativamente contínua como fenômeno, ela é totalmente transitória quanto às individualidades. A natureza não provê uma base para a crença lógica na sobrevivência da personalidade humana. O homem religioso que encontra Deus na natureza, já encontrara, primeiro, esse mesmo Deus pessoal na sua própria alma.

A fé revela Deus na alma. A revelação, a substituta do discernimento moroncial interior num mundo evolucionário, capacita o homem a ver na natureza o mesmo Deus que pela fé se manifesta na sua alma. Assim, a revelação faz com êxito uma ponte, atravessando o abismo


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entre o material e o espiritual, e mesmo entre a criatura e o Criador, entre o homem e Deus.

A contemplação da natureza conduz logicamente a um guiamento interior inteligente, e mesmo até uma orientação vivencial, mas, de nenhum modo satisfatório, ela revela um Deus pessoal. A natureza, por outro lado, também não demonstra nada que impeça que o universo possa ser considerado como uma obra do mesmo Deus da religião. Deus não pode ser encontrado somente por meio da natureza, mas o fato de que o homem O haja encontrado torna o estudo da natureza integralmente consistente com uma interpretação mais elevada e mais espiritual do universo.

A revelação, como fenômeno para uma época, é periódica; como experiência humana pessoal, é contínua. A divindade opera na personalidade mortal como dádiva do Ajustador do Pai, como Espírito da Verdade do Filho e como Espírito Santo do Espírito do Universo, pois esses três dons supramortais estão unificados na evolução experiencial humana como ministração do Supremo.

A verdadeira religião é um vislumbrar da realidade, é a filha da fé dentro da consciência moral, e não um assentimento meramente intelectual dado a um corpo doutrinário dogmático qualquer. A verdadeira religião consiste na experiência de que “o Espírito, ele próprio, dá um testemunho para o nosso espírito de que nós somos os filhos de Deus”. A religião não consiste em proposições teológicas, mas no discernimento espiritual interior e na sublimidade da confiança da alma.

A vossa natureza mais profunda – o Ajustador divino – cria dentro de vós a fome e a sede de retidão, um certo anseio pela perfeição divina. A religião é o ato de fé no reconhecimento desse impulso interno de realização divina; e assim nascem a confiança e a segurança de alma, as quais vós reconhecereis como o caminho da salvação, a técnica de sobrevivência da personalidade e de todos aqueles valores que viestes a considerar como sendo verdadeiros e bons.

O entendimento na religião nunca tem sido e nunca será dependente de um grande aprendizado, nem de uma lógica hábil. Ele é discernimento espiritual, e essa é exatamente a razão pela qual alguns dos maiores educadores religiosos do mundo e mesmo os profetas, algumas vezes, possuíram tão pouco da sabedoria profana do mundo. A fé religiosa está disponível tanto para os instruídos como para os ignorantes.

A religião deve ser sempre a sua própria crítica e juíza; não pode nunca ser observada e muito menos compreendida, do lado de fora. A vossa segurança num Deus pessoal consiste no vosso próprio discernimento quanto à vossa crença nas coisas espirituais, e na vossa experiência delas. Para todos os vossos companheiros que tiveram uma experiência semelhante, nenhuma argumentação sobre a personalidade ou a realidade de Deus se faz necessária, ao passo que, para todos os outros homens que não estão assim tão seguros de Deus, nenhuma argumentação possível pode jamais ser de fato convincente.

A psicologia, na verdade, pode tentar estudar o fenômeno das reações religiosas ao ambiente social, mas nunca pode esperar penetrar os motivos reais e interiores, nem os trabalhos da religião. Apenas a teologia, domínio da fé e da técnica da revelação, pode proporcionar qualquer espécie inteligente de explicação quanto à natureza e ao conteúdo da experiência religiosa.

3. AS CARACTERÍSTICAS DA RELIGIÃO

A religião é tão vital que sobrevive, ainda que na ausência de instrução. Vive a despeito da contaminação que possa ter de cosmologias errôneas e de filosofias falsas; sobrevive mesmo à confusão da metafísica. Durante todas as vicissitudes históricas da religião, persiste sempre o que é indispensável ao progresso e à sobrevivência humana: o conhecimento da ética e a consciência prática da moral.


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A fé-discernimento ou a intuição espiritual é o dom da mente cósmica associado ao trabalho do Ajustador do Pensamento, o qual é uma dádiva do Pai ao homem. A razão espiritual, a inteligência da alma, é dom do Espírito Santo, dádiva do Espírito Criativo ao homem. A filosofia espiritual, a sabedoria das realidades espirituais, é dom do Espírito da Verdade, a dádiva conjugada dos Filhos auto-outorgados aos filhos dos homens. E a coordenação e a interassociação desses dons de espírito constituem, dentro do homem, uma personalidade espiritual com um destino potencial.

É essa mesma personalidade espiritual, sob a sua forma primitiva e embrionária, na posse do Ajustador, que sobrevive à morte natural na carne. Essa entidade composta de origem espiritual, em associação com a experiência humana, fica capacitada, por intermédio da forma de vida provida pelos Filhos divinos, a sobreviver (conservada pelo Ajustador) à dissolução do eu material da mente e da matéria, quando essa sociedade transitória, do material e do espiritual, for rompida pela cessação do movimento vital.

Por meio da fé religiosa, a alma do homem revela a si própria e demonstra a divindade potencial da sua natureza emergente, do modo característico pelo qual ela induz a personalidade mortal a reagir a certas situações intelectuais e sociais de provação e de teste. A fé espiritual genuína (a consciência moral verdadeira) é revelada naquilo que:

1. Faz a ética e a moral progredirem, a despeito de tendências animais inerentes e adversas.

2. Produz uma sublime confiança na bondade de Deus, mesmo em face de um amargo desapontamento ou de derrotas esmagadoras.

3. Gera uma coragem e uma confiança profundas, a despeito de adversidades naturais e de calamidades físicas.

4. Demonstra um equilíbrio inexplicável e uma tranqüilidade que se fortifica, a despeito de doenças desconcertantes e mesmo de um sofrimento físico agudo.

5. Mantém um misterioso equilíbrio e o élan da personalidade, em face de maus-tratos e da mais flagrante injustiça.

6. Mantém uma confiança divina na vitória última, a despeito das crueldades de um destino aparentemente cego e da indiferença aparentemente total das forças naturais para com o bem-estar humano.

7. Persiste inquebrantável na crença em Deus, a despeito de todas as demonstrações, em contrário, da lógica, e resiste com êxito a todos os outros sofismas intelectuais.

8. Continua a demonstrar uma fé audaz na sobrevivência da alma, apesar dos ensinamentos enganosos da falsa ciência e das ilusões persuasivas das filosofias tendenciosas.

9. Vive e triunfa independentemente da sobrecarga esmagadora das civilizações complexas e fanatizadas dos tempos modernos.

10. Contribui para a sobrevivência continuada do altruísmo, a despeito do egoísmo humano, dos antagonismos sociais, da usura industrial e dos desajustes políticos.

11. Adere com firmeza a uma crença sublime na unidade do universo e no guiamento divino, sem preocupações quanto à presença perturbadora do mal e do pecado.

12. Continua adorando a Deus a despeito de tudo e de todos. Ousa declarar: “Ainda que Ele me mate, ainda assim servirei a Ele”.

Sabemos, pois, por intermédio de três fenômenos, que o homem tem um espírito divino, ou espíritos, residindo dentro dele: primeiro, pela experiência pessoal – a fé religiosa – ; segundo, pela


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revelação – pessoal e racial – ; e terceiro, pela demonstração surpreendente das reações extraordinárias, e não inatas, ao meio ambiente material, conforme ilustram as doze atuações de cunho espiritual, em face das situações de provação na vida real que acabamos de citar. E ainda há outras.

E é precisamente essa atuação vital e vigorosa da fé, no domínio da religião, que autoriza o homem mortal a afirmar a posse pessoal e a existência da realidade espiritual de um dom que coroa a natureza humana: a experiência religiosa.

4. AS LIMITAÇÕES DA REVELAÇÃO

Pelo fato de que o vosso mundo geralmente é ignorante das origens, e mesmo das origens físicas, pareceu ser sábio, de tempos em tempos, prover instrução sobre a cosmologia; mas isso sempre gera problemas no futuro. As leis da revelação impedem-nos grandemente, pela proscrição que fazem sobre transmitir conhecimento ainda imerecido ou prematuro. Qualquer cosmologia apresentada como uma parte da religião revelada destina-se a ser ultrapassada num tempo muito curto. Em conseqüência, os estudantes futuros dessa revelação serão tentados a descartar qualquer elemento de verdade religiosa genuína que possa conter, porque descobrem erros nas cosmologias apresentadas conseqüentemente neles.

A humanidade deveria compreender que nós, que participamos da revelação da verdade, somos muito rigorosamente limitados pelas instruções dos nossos superiores. Não temos liberdade de antecipar as descobertas científicas de mil anos. Os reveladores devem agir de acordo com as instruções que formam uma parte do mandato da revelação. Nós não vemos como superar essa dificuldade, agora ou em qualquer tempo futuro. Sabemos perfeitamente que, embora os fatos históricos e as verdades religiosas da presente série de apresentações reveladoras fiquem nos registros das idades que virão, dentro de uns poucos curtos anos, muitas das nossas afirmações a respeito das ciências físicas estarão necessitando de revisão, em conseqüência de novos desenvolvimentos científicos e de novas descobertas. Esses novos desenvolvimentos, desde agora, nós os prevemos, mas estamos proibidos de incluir, nos registros reveladores, esses fatos não descobertos pela humanidade. Que fique claro que as revelações não são necessariamente inspiradas. A cosmologia nessas revelações não é inspirada. Ela é limitada pela permissão que temos de coordenação e de triagem do conhecimento de hoje. Conquanto o discernimento divino ou espiritual seja uma dádiva, a sabedoria humana deve evoluir.

A verdade é sempre uma revelação: é uma auto-revelação, quando emerge como resultado do trabalho do Ajustador residente; é uma revelação para uma época, quando é apresentada pelo trabalho de alguma outra agência, grupo ou personalidade celeste.

Em última análise, a religião deve ser julgada pelos seus frutos, segundo o modo e a extensão pelos quais demonstra a sua excelência inerente e divina.

A verdade não pode ser senão relativamente inspirada, se bem que a revelação seja invariavelmente um fenômeno espiritual. Ainda que as afirmações que se refiram à cosmologia nunca sejam inspiradas, estas revelações são de um valor imenso, ao menos transitoriamente, tornando os conhecimentos claros, pois elas:

1. Reduzem a confusão, por meio de uma eliminação do erro, com autoridade.

2. Fazem a coordenação dos fatos e observações que são conhecidos ou que estão para ser conhecidos.


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3. Restauram partes importantes do conhecimento perdido a respeito de acontecimentos de uma época num passado distante.

4. Fornecem a informação que preencherá lacunas vitais no conhecimento adquirido de outro modo.

5. Apresentam dados cósmicos, de modo a iluminar os ensinamentos espirituais contidos na revelação que os acompanha.

5. A RELIGIÃO EXPANDIDA PELA REVELAÇÃO

A revelação é uma técnica por meio da qual idades e mais idades de tempo são poupadas do trabalho necessário de triar e de separar os erros cometidos na evolução das verdades adquiridas pelo espírito.

A ciência lida com os fatos; a religião ocupa-se apenas dos valores. Por intermédio da filosofia esclarecida, a mente esforça-se para unir os significados dos fatos e dos valores, chegando, assim, a um conceito da realidade completa. Lembrai-vos de que a ciência é o domínio do conhecimento, a filosofia, o reino da sabedoria, e a religião, a esfera da experiência pela fé. A religião, entretanto, apresenta duas fases de manifestação:

1. A religião evolucionária. É a experiência da adoração primitiva, a religião que se deriva da mente.

2. A religião revelada. É a atitude universal que se deriva do espírito; é a convicção e a crença na conservação das realidades eternas, a sobrevivência da personalidade e a realização de alcançar, afinal, a Deidade cósmica, cujo propósito tornou tudo isso possível. É parte do plano do universo que, mais cedo ou mais tarde, a religião evolucionária esteja destinada a receber a expansão espiritual da revelação.

Tanto a ciência quanto a religião começam por assumir certas bases, geralmente aceitas, para deduções lógicas. Assim, também a filosofia começa a sua carreira assumindo a realidade de três coisas:

1. O corpo material.

2. A fase supramaterial do ser humano, a alma, ou mesmo o espírito residente.

3. A mente humana, o mecanismo de intercomunicação e de interassociação entre o espírito e a matéria, entre o material e o espiritual.

Os cientistas reúnem os fatos, os filósofos coordenam as idéias, enquanto os profetas exaltam os ideais. O sentimento e a emoção acompanham invariavelmente a religião, mas eles não são religião. A religião pode ser o sentimento da experiência, mas dificilmente é a experiência de sentimentos. Nem a lógica (a racionalização), nem a emoção (o sentimento) fazem, essencialmente, parte da experiência religiosa, se bem que ambas possam estar associadas, de um modo variável, ao exercício da fé para fazer o discernimento espiritual progredir até o discernimento da realidade, tudo de acordo com o status da mente individual e das tendências do temperamento dessa mente.

A religião evolucionária é a exteriorização do dom do ajudante da mente, do universo local, encarregado de criar e fomentar a tendência à adoração no homem evolucionário. As religiões primitivas estão diretamente interessadas na ética e na moral, no senso humano do dever. Tais religiões estão fundadas na segurança da consciência e resultam na estabilização de civilizações relativamente éticas.


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As religiões pessoalmente reveladas são promovidas pelos espíritos de outorga, que representam as três pessoas da Trindade do Paraíso e que se ocupam especialmente da expansão da verdade. A religião evolucionária faz o indivíduo lembrar-se da idéia do dever pessoal; a religião revelada dá ênfase crescente ao amor, à regra de ouro.

A religião que evoluiu repousa integralmente na fé. A revelação dá a segurança suplementar da sua apresentação expandida das verdades da divindade e da realidade, e dá um testemunho de valor ainda maior sobre a experiência de fato que se acumula em conseqüência da união prática eficiente entre a fé vinda da evolução e a verdade vinda da revelação. Essa união eficiente da fé humana e da verdade divina constitui uma posse que tem um caráter bastante bem encaminhado para adquirir, de fato, uma personalidade moroncial.

A religião evolucionária apenas proporciona a segurança da fé e a confirmação da consciência; a religião reveladora provê a segurança da fé mais a verdade de uma experiência viva nas realidades da revelação. O terceiro passo na religião, ou a terceira fase da experiência na religião, tem a ver com o estado moroncial, com uma aquisição mais firme dentro da mota. No curso da progressão moroncial, as verdades da religião revelada são expandidas; mais e mais, vós sabereis sobre a verdade dos valores supremos, da bondade divina, das relações universais, das realidades eternas e dos destinos últimos.

Durante a progressão moroncial, cada vez mais a certeza da verdade substitui a certeza da fé. Quando vós fordes integrados finalmente ao mundo real do espírito, então, a certeza do puro discernimento espiritual irá funcionar no lugar da fé e da verdade, ou, antes, operará em conjunção com elas, sobrepondo-se a essas técnicas anteriores de prover a certeza à personalidade.

6. A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA PROGRESSIVA

A fase moroncial da religião revelada tem a ver com a experiência da sobrevivência, e o seu grande anseio é alcançar a perfeição espiritual. Nela está também presente o impulso mais elevado da adoração, associado a um impulso forte, chamando para um serviço cada vez mais ético. O discernimento moroncial interno facilita uma consciência sempre em expansão do Sétuplo, do Supremo e, mesmo, do Último.

Ao longo de toda a experiência religiosa, desde a sua mais tenra insipiência, no nível material, até a época do alcance de realização, de status espiritual pleno, o Ajustador é o segredo da compreensão pessoal da realidade da existência do Supremo; e esse mesmo Ajustador também mantém os segredos da vossa fé na realização transcendental do Último. A personalidade experiencial do homem, em evolução, unida ao Ajustador, cuja essência é a de ser um Deus existencial, constitui a culminação potencial da existência suprema e constitui inerentemente uma base para a factualização suprafinita da personalidade transcendental.

A vontade moral abrange decisões baseadas no conhecimento, no raciocínio ampliado pela sabedoria e sancionado pela fé religiosa. Essas escolhas são atos de natureza moral e evidenciam a existência da personalidade moral, a precursora da personalidade moroncial e, afinal, do status espiritual verdadeiro.

O conhecimento do tipo evolucionário não é senão a acumulação de material protoplásmico da memória; e essa é a mais primitiva forma de consciência da criatura. A sabedoria abrange as idéias formuladas da memória protoplásmica, em processo de associação e recombinação, e tais fenômenos diferenciam a mente


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humana da mente meramente animal. Os animais têm conhecimento, mas apenas o homem possui capacidade de sabedoria. A verdade é tornada acessível ao indivíduo dotado de sabedoria, por meio da outorga feita à sua mente, dos espíritos do Pai e dos Filhos, o Ajustador do Pensamento e o Espírito da Verdade.

Cristo Michael, quando auto-outorgado em Urântia, viveu sob o domínio da religião evolucionária até a época do seu batismo. Daquele momento em diante, inclusive no evento da sua crucificação, ele levou adiante o seu trabalho, sob o guiamento combinado da religião evolucionária e da religião revelada. A partir da manhã da sua ressurreição até a sua ascensão, ele passou por múltiplas fases da vida moroncial, da transição mortal do mundo da matéria até o mundo do espírito. Depois da sua ascensão, Michael tornou-se o mestre da experiência da Supremacia, a compreensão do Supremo; e, sendo a única pessoa em Nebadon a possuir a capacidade ilimitada de experienciar a realidade do Supremo, imediatamente atingiu o status de soberania e supremacia no seu universo local e para este universo.

Para o homem, a fusão final e a unificação resultante com o Ajustador residente – a síntese da personalidade de homem e a essência de Deus – fazem dele, em potencial, uma parte viva do Supremo e asseguram a esse ser, que certa vez foi um mortal, o direito de nascimento eterno de busca sem fim da finalidade do serviço no universo, para e com o Supremo.

A revelação ensina ao homem mortal que, para começar essa magnífica e intrigante aventura no espaço, por intermédio da progressão no tempo, ele deveria começar pela organização do conhecimento em idéias-decisões; para, em seguida, comandar à sabedoria que trabalhe incansavelmente na sua nobre tarefa de transformar as idéias próprias pessoais em ideais cada vez mais práticos, mas não menos supernos, até mesmo naqueles conceitos que, sendo tão razoáveis como idéias e tão lógicos enquanto ideais, o Ajustador ousa combiná-los e espiritualizá-los, tornando-os disponíveis para essa associação na mente finita que fará deles um complemento humano factual, pronto para a ação do Espírito da Verdade dos Filhos, que são as manifestações no espaço-tempo da verdade do Paraíso – a verdade universal. A coordenação das idéias-decisões, dos ideais lógicos e da verdade divina constitui a posse de um caráter reto, que é o pré-requisito para a admissão do mortal nas realidades sempre em expansão e crescentemente espirituais dos mundos moronciais.

Os ensinamentos de Jesus constituíram a primeira religião urantiana a abranger tão plenamente uma coordenação harmoniosa de conhecimento, sabedoria, fé, verdade e amor, tão completa e simultaneamente, a ponto de proporcionar a tranqüilidade temporal, a certeza intelectual, o esclarecimento moral, a estabilidade filosófica, a sensibilidade ética, a consciência de Deus e a certeza positiva da sobrevivência pessoal. A fé de Jesus apontou o caminho para a finalidade da salvação humana, para a ultimidade da realização mortal no universo, pois ela assegurou:

1. A salvação das correntes materiais, pela realização da filiação a Deus, que é espírito.

2. A salvação da escravidão intelectual: o homem conhecerá a verdade, e a verdade o libertará.

3. A salvação da cegueira espiritual, a realização humana da fraternidade entre os seres mortais e a consciência moroncial da irmandade de todas as criaturas do universo; o serviço-descoberta da realidade espiritual e do ministério-revelação da bondade dos valores espirituais.


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4. A salvação da incompletude do ego, por meio de um alcance até os níveis espirituais no universo e por meio da realização final da harmonia de Havona e da perfeição do Paraíso.

5. A salvação do eu, a liberação das limitações da autoconsciência, por meio do alcance dos níveis cósmicos da mente do Supremo e pela coordenação com as realizações de todos os outros seres autoconscientes.

6. A salvação do tempo, a realização de uma vida eterna de progressão infindável no reconhecimento de Deus e no serviço de Deus.

7. A salvação do finito, por meio da unidade perfeccionada com a Deidade no Supremo, e por meio do qual a criatura intenta a descoberta transcendental do Último, nos níveis de pós-finalidade do absonito.

Essa salvação sétupla é equivalente à realização completa e perfeita da experiência em ultimidade com o Pai Universal. E tudo isso, em potencial, está contido na realidade da fé da experiência humana na religião. E pode estar assim contida, posto que a fé de Jesus foi nutrida por realidades até mesmo além do Último, e foi reveladora delas; a fé de Jesus aproximou-se do status de um absoluto no universo, na medida em que tal seja possível de ser manifestado no cosmo em evolução do tempo e do espaço.

Por meio da apropriação da fé de Jesus, o homem mortal pode antecipar, no tempo, o gosto das realidades da eternidade. Jesus fez a descoberta, na sua experiência humana, do Pai Final, e os seus irmãos na carne, em vida mortal, podem segui-lo ao longo dessa mesma experiência de descoberta do Pai. Eles podem até mesmo alcançar, sendo o que são, a mesma satisfação, nessa experiência com o Pai, que Jesus alcançou, sendo o que ele era. Novos potenciais factualizaram-se no universo de Nebadon em conseqüência da auto-outorga final de Michael; e um destes é a nova iluminação do caminho de eternidade que conduz ao Pai de tudo, e que pode ser percorrido pelos mortais de carne e sangue material, ainda na vida inicial nos planetas do espaço. Jesus foi e é o novo caminho vivo, por meio do qual o homem pode chegar à herança divina que o Pai decretou que fosse dele, apenas ele assim o pedisse. Com Jesus ficam abundantemente demonstrados os começos e os fins da experiência de fé da humanidade, e até mesmo da humanidade divina.

7. UMA FILOSOFIA PESSOAL DA RELIGIÃO

Uma idéia é apenas um plano teórico para a ação, ao passo que uma decisão positiva é um plano de ação confirmado. Um estereótipo é um plano de ação aceito sem a validação. Os materiais dos quais se pode fazer uma filosofia pessoal da religião são derivados tanto da experiência interna quanto da experiência do indivíduo com o ambiente. O status social, as condições econômicas, as oportunidades educacionais, as inclinações morais, as influências institucionais, os desenvolvimentos políticos, as tendências raciais e os ensinamentos religiosos do tempo e do local tornam-se todos fatores na formulação de uma filosofia pessoal da religião. Mesmo o temperamento inerente e a inclinação intelectual determinam, de um modo marcante, o modelo de filosofia religiosa. A vocação, o casamento e as afinidades, todos influenciam na evolução dos padrões pessoais de vida.

Uma filosofia da religião evolui de um crescimento básico das idéias, somado à vivência experiencial, pois ambos são modificados pela tendência de imitar os semelhantes. A idoneidade das conclusões filosóficas depende de um pensamento discriminador penetrante, honesto e criterioso, em ligação com a sensibilidade para os significados e a precisão de avaliação.


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Os covardes morais nunca alcançam os planos elevados do pensamento filosófico; é necessário coragem para invadir novos níveis de experiência e para tentar a exploração de domínios desconhecidos da vida intelectual.

Atualmente, novos sistemas de valores passam à existência; novas formulações de princípios e padrões são feitas; hábitos e ideais são reformulados; uma idéia de um Deus pessoal é alcançada, seguida de conceitos ampliados de relações com ela.

A grande diferença entre uma filosofia religiosa e uma filosofia não-religiosa de vida consiste na natureza e no nível dos valores reconhecidos e naquilo que é merecedor da lealdade. Há quatro fases na evolução da filosofia religiosa: tal experiência pode tornar-se meramente conformadora e resignada à submissão à tradição e à autoridade; ou pode dar-se por satisfeita com realizações leves, suficientes apenas para estabilizar a vida diária, e, pois, tornar-se logo presa num nível ocasional. Esses mortais acreditam que o melhor é inimigo do bom. Um terceiro grupo progride até o nível da intelectualidade lógica, mas fica estagnado aí, em conseqüência da escravidão cultural. É verdadeiramente uma pena ver intelectos tão grandes serem mantidos tão solidamente dentro da garra cruel de laços culturais. É igualmente patético observar aqueles que transformam as correntes materialistas de uma ciência, ou de uma falsa ciência, na sua prisão cultural. O quarto nível de filosofia alcança a liberdade de todas as limitações convencionais e tradicionais e ousa pensar, agir e viver honesta, leal, destemida e verdadeiramente.

A prova máxima para qualquer filosofia religiosa está na sua capacidade de distinguir ou não entre as realidades do mundo material e as do mundo espiritual e, ao mesmo tempo, reconhecer a sua unificação no esforço intelectual e a serviço do social. Uma filosofia religiosa sólida não confunde as coisas de Deus com as coisas de César. E também não reconhece o culto estético do maravilhoso puro como um substituto para a religião.

A filosofia transforma aquela religião primitiva, que foi um grande conto de fadas da consciência, numa experiência viva com os valores ascendentes da realidade cósmica.

8. A FÉ E A CRENÇA

A crença terá alcançado o nível da fé quando ela estiver motivando a vida e moldando o modo de vida. A aceitação de um ensinamento como verdadeiro não é fé; é mais uma crença. Nem a certeza nem a convicção também não são fé. Um estado mental atinge os níveis da fé apenas quando, de fato, domina o modo de vida. A fé é um atributo de uma experiência pessoal religiosa verdadeira. Acredita-se na verdade, admira-se a beleza e reverencia-se a bondade, mas não se as adora; essa atitude da fé salvadora é centrada em Deus apenas, que é tudo isso personificado e infinitamente mais.

A crença é sempre limitante e aprisionadora; a fé é expansiva e libertadora. A crença fixa, a fé liberta. Todavia, a fé religiosa viva é mais do que uma associação de crenças nobres; é mais do que um sistema elevado de filosofia; é uma experiência viva, voltada para os significados espirituais, junto aos ideais divinos e aos valores supremos; é conhecer a Deus e servir aos homens. As crenças podem transformar-se em posses grupais, mas a fé deve ser pessoal. As crenças teológicas podem ser sugeridas a um grupo, mas a fé apenas pode surgir individualmente no coração do religioso.

A fé falsifica a sua confiabilidade, quando presume negar as realidades e conferir aos seus devotos conhecimentos presumidos. A fé é traidora, quando fomenta a traição


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à integridade intelectual e deprecia a lealdade aos valores supremos e aos ideais divinos. A fé nunca evita o dever de resolver os problemas da vida mortal. A fé viva não fomenta o fanatismo, a perseguição ou a intolerância.

A fé não impede a imaginação criativa, nem mantém um preconceito irracional contra as descobertas da investigação científica. A fé revitaliza a religião e obriga o religioso a viver heroicamente a regra de ouro. O zelo da fé está de acordo com o conhecimento, e os seus esforços são o prelúdio de uma paz sublime.

9. A RELIGIÃO E A MORALIDADE

Nenhuma revelação da religião, professada como tal, poderia ser considerada como autêntica, se deixasse de reconhecer as demandas do dever da obrigação ética que foram criadas e fomentadas pela religião evolucionária precedente. A revelação amplia infalivelmente o horizonte ético da religião evoluída e, simultânea e infalivelmente, expande as obrigações morais de todas as revelações anteriores.

Quando presumirdes fazer um julgamento crítico da religião primitiva do homem (ou sobre a religião do homem primitivo), devíeis lembrar-vos de julgar tais selvagens e de avaliar a sua experiência religiosa de acordo com o seu esclarecimento e o seu estado de consciência. Não cometais o erro de julgar a religião de alguém segundo os vossos próprios padrões de conhecimento e de verdade.

A verdadeira religião é aquela convicção sublime e profunda que, de dentro da alma, aconselha ao homem, de um modo irresistível, que seria errado para ele não acreditar naquelas realidades moronciais que são os seus conceitos éticos e morais mais elevados, na sua interpretação mais elevada dos maiores valores da vida e das realidades mais profundas do universo. E essa religião é simplesmente a experiência de devotar a lealdade intelectual aos ditames mais elevados da consciência espiritual.

A busca da beleza é uma parte da religião apenas na medida em que é ética e enriquece o conceito da moral. A arte só é religiosa quando se confunde com o propósito derivado da motivação espiritual elevada.

A consciência espiritual esclarecida do homem civilizado não se preocupa tanto com alguma crença intelectual ou com um modo particular de vida, quanto com a descoberta da verdade da vida, com a técnica boa e correta de reagir às situações sempre recorrentes da existência mortal. A consciência moral é apenas um nome dado ao reconhecimento e à consciência humana daqueles valores éticos e moronciais emergentes, aos quais o dever manda que o homem se conforme, no controle cotidiano e no seu modo de conduzir-se.

Embora reconhecendo que a religião seja imperfeita, existem ao menos duas manifestações práticas da sua natureza e função:

1. O estímulo espiritual e a pressão filosófica da religião tendem a levar o homem a projetar a sua apreciação dos valores morais diretamente para fora, na direção dos assuntos ligados aos seus semelhantes – a reação ética da religião.

2. A religião cria, para a mente humana, uma consciência espiritualizada da realidade divina, baseada em conceitos antecedentes de valores morais, derivada deles pela fé e coordenada com conceitos superimpostos de valores espirituais. A religião, por isso, torna-se um censor dos assuntos mortais, uma forma de crédito moral de confiança glorificada na realidade, nas realidades do tempo realçadas e nas realidades mais duradouras da eternidade.


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A fé transforma-se na conexão entre a consciência moral e o conceito espiritual da realidade permanente. A religião transforma-se na via pela qual o homem escapa das limitações materiais do mundo temporal e natural, para alcançar as realidades supernas do mundo eterno e espiritual, por meio da técnica da salvação, a transformação moroncial progressiva.

10. A RELIGIÃO COMO LIBERTADORA DO HOMEM

O homem inteligente sabe que é um filho da natureza, uma parte do universo material; e também não discerne nenhuma sobrevivência da personalidade individual nos movimentos e nas tensões de nível matemático do universo da energia. Nem jamais pode o homem discernir a realidade espiritual por meio do exame das causas e dos efeitos físicos.

Um ser humano é consciente também de que ele é uma parte do cosmo ideacional, mas, embora um conceito possa perdurar além do ciclo de uma vida mortal, nada há de inerente ao conceito que indique a sobrevivência pessoal da personalidade que o concebe. Nem o esgotamento de todas as possibilidades da lógica e da razão jamais revelará ao lógico, ou ao argumentador, a verdade eterna da sobrevivência da personalidade.

O nível material da lei assegura a continuidade da causalidade, a interminável reação de efeito à ação antecedente; o nível da mente sugere a perpetuação da continuidade ideacional, o fluxo incessante da potencialidade conceitual das concepções preexistentes. No entanto, nenhum desses níveis, no universo, abre ao mortal buscador um caminho escapatório da parcialidade do seu status e da incerteza intolerável de ser uma realidade transitória no universo, uma personalidade temporal condenada a ser extinta quando da exaustão das limitadas energias da vida.

Apenas pela via moroncial, que conduz ao discernimento espiritual interior, é que o homem pode romper as cadeias inerentes ao seu status de mortal no universo. A energia e a mente podem conduzir de volta ao Paraíso e à Deidade, mas nem o dom da energia nem o dom da mente, dados ao homem, provêm diretamente dessa Deidade do Paraíso. Apenas no sentido espiritual o homem é um filho de Deus. E isso é verdade porque apenas no sentido espiritual é que o homem é atualmente dotado e residido pelo Pai do Paraíso. A humanidade nunca descobrirá a divindade a não ser por meio da via da experiência religiosa e pelo exercício da verdadeira fé. A aceitação da verdade de Deus, por meio da fé, capacita o homem a escapar dos confins circunscritos das limitações materiais e lhe dá uma esperança racional de obter o salvo-conduto do reino material, onde existe a morte, para o Reino espiritual, onde há a vida eterna.

O propósito da religião não é satisfazer a curiosidade sobre Deus, mas, sim, proporcionar a constância intelectual e a segurança filosófica de estabilizar e de enriquecer a vida humana, combinando o mortal com o divino, o parcial com o perfeito, o homem e Deus. É por intermédio da experiência religiosa que os conceitos humanos da idealidade tornam-se dotados e plenos de realidade.

Nunca haverá uma prova científica ou lógica da divindade. A razão por si só nunca poderá ratificar os valores e a excelência da experiência religiosa. Todavia, será sempre verdade que qualquer um que se disponha a cumprir a vontade de Deus compreenderá a validade dos valores espirituais. Essa é a maior aproximação que pode ser realizada, no nível mortal, para oferecer provas da realidade da experiência religiosa. Tal fé proporciona a única saída das garras mecânicas do mundo material


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e da distorção do erro da incompletude do mundo intelectual; é a única solução descoberta para o impasse gerado no pensamento mortal a respeito da continuidade da sobrevivência da personalidade individual. É o único passaporte para a realidade completa e para a eternidade da vida em uma criação universal de amor, lei, unidade e alcance progressivo da Deidade.

A religião cura eficazmente o sentido de isolamento idealista do homem, ou de solidão espiritual; ela emancipa o crente como um filho de Deus, um cidadão de um universo novo e significativo. A religião assegura ao homem que, seguindo a luz da retidão que é discernível dentro da sua alma, ele está assim identificando-se com o plano do Infinito e com o propósito do Eterno. Uma alma liberada desse modo começa imediatamente a sentir-se em casa nesse novo universo, o seu universo.

Quando passardes pela experiência de uma tal transformação pela fé, não sereis mais uma parte escravizada do cosmo matemático, sereis mais um independente filho volicional do Pai Universal. Não mais esse filho liberado está lutando sozinho contra a condenação inexorável da terminação na existência temporal; não mais ele combate a toda a natureza, com as possibilidades desesperadamente contra si; não mais ele hesita com um medo paralisante de ter, por acaso, colocado a sua confiança numa quimera sem esperança ou de ter pregado a sua fé num alfinete imaginário.

Agora, sobretudo, os filhos de Deus estão alistados juntos para lutarem na batalha que é o triunfo da realidade sobre as sombras parciais da existência. Afinal, todas as criaturas tornam-se conscientes do fato de que Deus e todas as hostes divinas, de um universo quase sem limites, estão do seu lado na luta superna para alcançar a eternidade da vida e a divindade de status. Tais filhos, liberados pela fé, certamente se alistaram nas lutas do tempo ao lado das forças supremas e das personalidades divinas da eternidade; até mesmo as estrelas, nos seus cursos, agora, estão na batalha por eles; afinal, eles contemplam o universo de dentro, do ponto de vista de Deus, e, das incertezas de um isolamento material, tudo fica transformado nas certezas da progressão espiritual eterna. E mesmo o tempo não se torna mais do que uma sombra da eternidade, lançada pelas realidades do Paraíso, sobre a panóplia, em movimento, do espaço.

[Apresentado por um Melquisedeque de Nebadon.]