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Logo depois de aportar perto de Queresa, nesse domingo agitado, Jesus e os vinte e quatro foram um pouco para o norte, onde passaram a noite em um belo parque ao sul de Betsaida-Júlias. Eles estavam ambientados com esse local de acampamento, tendo estado lá em dias passados. Antes de se retirar para dormir, o Mestre reuniu os seus seguidores em torno de si e discutiu com eles sobre os planos para o projeto da campanha que fariam por Batanea e pelo Norte da Galiléia e pela costa fenícia.
Disse Jesus: “Deveríeis todos lembrar-vos como o salmista falou dessas épocas, dizendo: ‘Por que se enfurecem os pagãos, e os povos conspiram em vão? Os reis da Terra coroam-se a si próprios, e os governantes do povo fazem conselhos entre si, contra o Senhor e contra os seus sagrados, dizendo: Façamos as correntes da misericórdia em pedaços e livremo-nos dos laços do amor’.
“Hoje vedes que isso se cumpre, diante dos vossos olhos. Mas vós não vereis cumprido o restante da profecia do salmista, pois ele manteve idéias errôneas sobre o Filho do homem e a sua missão na Terra. O meu Reino funda-se no amor, é proclamado na misericórdia e é estabelecido por meio do serviço não egoísta. O meu Pai não se assenta no céu, rindo de menosprezo dos pagãos. Ele não fica irado, no seu grande desprazer. Verdadeira é a promessa de que o Filho terá como herança a todos os chamados pagãos (na realidade os seus irmãos ignorantes e sem instrução). E eu receberei esses gentios com os braços abertos, com misericórdia e afeto. Toda essa bondade amorosa será mostrada aos chamados pagãos, não obstante a infeliz declaração registrada que insinua que o Filho triunfante ‘quebrá-los-á com um cilindro de ferro e os deixará em pedaços como a um vaso de argila’. O salmista vos exortou a ‘servir ao Senhor com temor’ – eu vos conclamo a aceitar os privilégios elevados da filiação divina por meio da fé; ele vos comanda que rejubileis com tremores; eu vos conclamo a rejubilar-vos na certeza. Ele diz: ‘Beijai o Filho, para que ele não fique com raiva, e para que não pereçais quando a sua ira for inflamada’. E vós que vivestes comigo, bem sabeis que a raiva e a ira não são uma parte do estabelecimento do Reino do céu, nos corações dos homens. Mas o salmista apercebeu-se da verdadeira luz quando, ao terminar a sua exortação, disse: ‘Abençoados aqueles que põem a sua confiança nesse Filho’”.
Jesus continuou a ensinar aos vinte e quatro, dizendo: “Os pagãos não ficam sem uma desculpa, quando se enfurecem conosco. O seu ponto de vista sendo pequeno e estreito, levam-nos a ser capazes de concentrar as suas energias entusiasticamente. A sua meta está bem próxima deles e é mais ou menos visível, razão pela qual os seus esforços são valentes e a sua execução é eficiente. Vós, que tendes professado a entrada no Reino do céu, sois de todo vacilantes demais, e indefinidos, ao conduzirdes os vossos ensinamentos. Os pagãos
dão golpes diretos para conseguir os seus objetivos; vós sois culpados de ter demasiadas aspirações crônicas. Se desejardes entrar no Reino, por que não o tomar em um assalto espiritual, tal como os pagãos tomam uma cidade à qual eles sitiam? Dificilmente sereis dignos do Reino se o vosso serviço consistir tão primariamente em uma atitude de lamentar o passado, em queixumes quanto ao presente e em esperanças vãs para o futuro. Por que os pagãos se enfurecem? Porque não conhecem a verdade. Porque enlaguescei-vos em desejos fúteis? Porque não obedeceis à verdade. Cessai com os vossos anseios inúteis e ide em frente, com bravura, fazendo aquilo que diz respeito ao estabelecimento do Reino.
“Em tudo o que fizerdes, não vos torneis nunca unilaterais, nem excessivamente especializados. Os fariseus, que verdadeiramente querem a nossa destruição, pensam que estão fazendo o serviço de Deus. Eles tornaram-se tão estreitos, por tradição, que estão cegos pelo preconceito e endurecidos pelo medo. Considerai os gregos, que têm uma ciência sem religião, enquanto os judeus têm uma religião sem ciência. E, quando os homens são assim, erroneamente conduzidos a aceitar uma desintegração estreita e confusa da verdade, a sua única esperança de salvação é tornarem-se coordenados com a verdade – convertendo-se.
“Deixai que eu afirme enfaticamente a verdade eterna seguinte: Se vós, por uma coordenação com a verdade, aprenderdes a dar o exemplo, nas vossas vidas, dessa magnífica integridade de retidão, os vossos semelhantes humanos, então, vos seguirão para poder obter o que vós adquiristes desse modo. A medida pela qual os buscadores da verdade são atraídos para vós representa a medida do vosso dom de verdade, a vossa retidão. A escala, na qual vós tendes de vos prolongar na vossa mensagem ao povo, é de um certo modo a medida da vossa incapacidade de viver a vida reta e íntegra, a vida coordenada à verdade.”
E muitas outras coisas o Mestre ensinou aos seus apóstolos e evangelistas, antes que eles lhe dessem boa-noite e fossem descansar nos seus travesseiros.
Na segunda-feira, 23 de maio pela manhã, Jesus ordenou a Pedro que fosse a Corazim com os doze evangelistas; nisso, ele com os outros onze partiram para Cesaréia-Filipe, pelo caminho do Jordão, pela via Damasco-Cafarnaum, e dali para o nordeste, até a junção com a estrada de Cesaréia-Filipe, e então, entrando naquela cidade, permaneceram lá ensinando por duas semanas. Ali chegaram durante a tarde de terça-feira, 24 de maio.
Pedro e os evangelistas permaneceram em Corazim por duas semanas, pregando o evangelho do Reino a um pequeno, mas fervoroso, grupo de crentes. E, porém, eles não foram capazes de conquistar muitos novos convertidos. Nenhuma cidade em toda a Galiléia rendeu tão poucas almas para o Reino, quanto Corazim. De acordo com as instruções de Pedro, os doze evangelistas tiveram menos a dizer sobre as curas – as coisas físicas – enquanto pregavam e ensinavam com mais vigor as verdades espirituais do Reino do céu. Nessas duas semanas Corazim constituiu-se em um verdadeiro batismo na adversidade para os doze evangelistas, pois foi o período mais difícil e improdutivo das suas carreiras até esse momento. Estando assim privados da satisfação de conquistar almas para o Reino, cada um deles escutou mais sincera e honestamente a sua própria alma e o seu progresso no caminho espiritual da nova vida.
Quando parecia que ninguém mais estava disposto a procurar entrar no Reino, Pedro, na terça-feira, 7 de junho, reuniu os condiscípulos e partiu para Cesaréia-Filipe com o intuito de juntar-se a Jesus e aos apóstolos. Eles chegaram por volta do meio-dia, na quarta-feira, e passaram toda a noite contando sobre as experiências com os descrentes de Corazim. Durante as conversas dessa
noite Jesus fez outra referência à parábola do semeador e ensinou a eles muito sobre o significado dos aparentes fracassos nos empreendimentos da vida.
Embora Jesus não tenha feito nenhum trabalho público durante essas duas semanas de permanência perto de Cesaréia-Filipe, os apóstolos tiveram numerosos encontros calmos, à noite, na cidade, e muitos dos crentes vieram até o acampamento, para falar com o Mestre. Pouquísimos foram acrescentados ao grupo de crentes em conseqüência dessa visita. Jesus falava com os apóstolos todos os dias, e eles discerniram com mais clareza que uma nova fase do trabalho de pregação do Reino do céu estava começando agora. Eles estavam começando a compreender que o “Reino do céu não é comer e beber, mas que realizar a alegria espiritual da aceitação da divina filiação”.
A permanência em Cesaréia-Filipe foi um teste real para os onze apóstolos; foi um período difícil, de duas semanas, para eles viverem. Eles estavam ainda deprimidos, e sentiam falta do estímulo periódico da personalidade entusiástica de Pedro. Nesses momentos era verdadeiramente uma grande aventura de provações acreditar em Jesus e continuar seguindo-o. Embora eles tenham convertido poucas pessoas durante essas duas semanas, eles aprenderam muitas coisas que lhes foram de bastante proveito, das conferências diárias com o Mestre.
Os apóstolos aprenderam que os judeus estavam espiritualmente estagnados e moribundos, porque eles tinham cristalizado a verdade em um credo; que quando a verdade é formulada como sendo uma linha limite de exclusividade, útil para que uns se considerem mais virtuosos do que os outros, em vez de servir como uma indicadora de norteamenteo para o progresso espiritual, esses ensinamentos perdem o seu poder criativo e provedor da vida e passam a ser meramente preservadores fossilizantes.
Cada vez mais, de Jesus, eles aprendiam a olhar as personalidades humanas em termos das suas possibilidades no tempo e na eternidade. Eles aprendiam que muitas almas poderão ser levadas a melhor amar o Deus não visível, se lhes for ensinado primeiro a amar os seus irmãos, aos quais eles podem ver. E foi em relação a isso que um novo significado tornou-se ligado ao pronunciamento do Mestre a respeito do serviço não egoísta para o semelhante: “Na mesma medida que fizerdes ao menor dos meus irmãos, a mim é que o fareis”.
Uma das grandes lições dessa estada em Cesaréia teve a ver com a origem das tradições religiosas, com o grave perigo de permitir o senso do sagrado de tornar-se ligado a coisas não sagradas, idéias comuns, ou acontecimentos cotidianos. De uma conferência eles saíram com o ensinamento de que a verdadeira religião, para o homem, é a lealdade sincera às suas convicções mais elevadas e verdadeiras.
Jesus advertiu aos seus crentes de que, se as suas aspirações religiosas fossem apenas materiais, um conhecimento crescente da natureza iria, por um deslocamento progressivo da origem sobrenatural das coisas, em última instância, privá-los da sua fé em Deus. Mas que, se a sua religião fosse espiritual, nunca, o progresso da ciência física perturbaria a sua fé nas realidades eternas e nos valores divinos.
Eles aprenderam que, quando a religião tem motivos totalmente espirituais, ela faz toda a vida melhor e mais digna de ser vivida, preenchendo-a com propósitos elevados, dignificando-a com valores transcendentes, inspirando-a com motivos magníficos e, ao mesmo tempo, confortando a alma humana com uma esperança sublime e sustentadora. A verdadeira religião destina-se a diminuir as forças extenuantes da existência; ela libera a fé e a coragem para a vida cotidiana e para o serviço não egoísta. A fé fomenta a vitalidade espiritual e a fecundidade da retidão.
Jesus ensinou repetidamente aos seus apóstolos que nenhuma civilização poderia sobreviver por muito tempo à perda do melhor na sua religião. E ele nunca se cansou de apontar aos
doze o grande perigo de se aceitar símbolos e cerimônias religiosas em lugar da experiência religiosa. Toda a sua vida terrena foi devotada consistentemente à missão de degelar as formas congeladas de religião, dando-lhe as liberdades líquidas da filiação esclarecida.
Na quinta-feira, 9 de junho pela manhã, após receber a notícia a respeito dos progressos do Reino, trazida pelos mensageiros de Davi vindos de Betsaida, esse grupo de vinte e cinco instrutores da verdade deixou Cesaréia-Filipe para iniciar a sua viagem à costa fenícia. Eles contornaram a parte pantanosa pelo caminho de Luz, até o ponto de junção com a trilha de Magdala–monte Líbano, e daí seguiram para o cruzamento com a estrada que leva a Sidom, chegando lá na sexta-feira à tarde.
Enquanto paravam para o almoço, à sombra de uma saliência de rocha, perto de Luz, Jesus fez um dos pronunciamentos mais notáveis que os seus apóstolos jamais haviam ouvido durante todos os anos da sua ligação com ele. Tão logo eles assentaram-se para partir o pão, Simão Pedro perguntou a Jesus: “Mestre, já que o Pai no céu sabe de todas as coisas, e já que o espírito Dele é a nossa sustentação no estabelecimento do Reino do céu na Terra, por que é que estamos fugindo das ameaças dos nossos inimigos? Por que nos negamos a confrontarmo-nos com os inimigos da verdade?” Mas antes de Jesus iniciar a sua resposta à pergunta de Pedro, Tomé irrompeu, perguntando: “Mestre, eu realmente gostaria de saber o que há exatamente de errado com a religião dos nossos inimigos em Jerusalém. Qual é a diferença real entre a religião deles e a nossa? Por que é que temos essa divergência de crença quando todos nós professamos servir ao mesmo Deus?” E quando Tomé terminou, Jesus disse: “Conquanto não queira ignorar a pergunta de Pedro, sabendo muito bem quão fácil seria interpretar mal as minhas razões para evitar um conflito aberto com os chefes dos judeus, neste momento, ainda assim, revelar-se-ia de maior ajuda para todos vós se eu escolhesse responder à pergunta de Tomé. E é a isso que eu farei quando tiverdes terminado o vosso almoço”.
Esse discurso memorável sobre a religião, resumido e reformulado em linguagem moderna, deu expressão às verdades seguintes:
As religiões do mundo têm duas origens – a natural e a da revelação – em qualquer época e em meio a qualquer povo podem ser encontradas três formas distintas de devoção religiosa. E estas três manifestações do impulso religioso são:
1. A religião primitiva. O impulso seminatural e instintivo de temer as energias misteriosas e de adorar as forças superiores; principalmente em uma religião da natureza física, a religião do medo.
2. A religião da civilização. Os conceitos e as práticas religiosas que avançam, das raças civilizadas – a religião da mente – a teologia intelectual cuja autoridade é a tradição religiosa estabelecida.
3. A verdadeira religião – a religião da revelação. A revelação dos valores supra-naturais, uma visão com um discernimento parcial das realidades eternas, um vislumbre da bondade e da beleza do caráter infinito do Pai no céu – a religião do espírito, tal como fica demonstrada na experiência humana.
O Mestre recusou-se a depreciar a religião dos sentidos físicos e dos medos supersticiosos do homem natural, embora deplorasse o fato de que tanto dessa forma primitiva de adoração perdurasse nas formas de religiões das raças mais inteligentes da humanidade. Jesus deixou claro que a grande diferença entre a religião da mente e a religião do espírito é que, enquanto a primeira é sustentada pela autoridade eclesiástica, a última é totalmente baseada na experiência humana.
E então o Mestre, no seu momento de ensinar, continuou deixando claras as seguintes verdades:
Até que as raças se tornem altamente inteligentes e mais amplamente civilizadas, persistirão muitas dessas cerimônias infantis e supersticiosas, que são tão características das práticas da religião evolucionária dos povos primitivos e retrógrados. Enquanto a raça humana progride até o nível de um reconhecimento mais elevado e mais geral das realidades da experiência espiritual, uma grande quantidade de homens e mulheres continuará a demonstrar uma preferência pessoal por aquelas religiões autoritárias, que exigem apenas um consentimento intelectual. A religião do espírito, ao contrário, requer uma participação ativa da mente da alma na aventura da fé, no corpo a corpo com as realidades rigorosas da experiência humana progressiva.
A aceitação das religiões tradicionais, de autoridade, apresenta uma saída fácil para a urgência que o homem tem de buscar satisfação para os anseios da sua natureza espiritual. As religiões estabelecidas, cristalizadas e bem assentadas, de autoridade, proporcionam um refúgio pronto para dentro do qual a alma desatenta e perturbada do homem pode escapar, quando fustigada pelo medo e atormentada pela incerteza. Uma tal religião solicita dos seus devotos, como preço a ser pago pelas satisfações e seguranças oferecidas, apenas um consentimento passivo e puramente intelectual.
E por muito tempo ainda viverão na Terra, esses indivíduos temerosos, hesitantes e acomodados que preferirão assegurar assim as suas consolações religiosas, ainda que, arriscando a sorte com as religiões de autoridade, comprometam a soberania da personalidade, degradem a dignidade do respeito próprio e renunciem totalmente ao direito de participar da mais emocionante e inspiradora de todas as experiências humanas possíveis: A busca pessoal da verdade, a alegria de encarar os perigos da descoberta intelectual, a determinação de explorar as realidades da experiência religiosa pessoal, a satisfação suprema de experienciar o triunfo pessoal da realização factual da vitória da fé espiritual sobre a dúvida intelectual ganha honestamente, na aventura suprema de toda a existência humana – o homem buscando a Deus, para si próprio e por si próprio, e encontrando-O.
A religião do espírito significa esforço, luta, conflito, fé, determinação, amor, lealdade e progresso. A religião da mente – a teologia da autoridade – requer pouco ou nenhum desses exercícios dos seus crentes formais. A tradição é um refúgio seguro e um caminho fácil para as almas temerosas e acanhadas, que instintivamente evitam as lutas espirituais e as incertezas mentais que estão associadas a essas viagens da fé, de aventuras ousadas, no alto-mar da verdade inexplorada em busca das margens distantes de realidades espirituais. Essas realidades espirituais podem ser descobertas pela mente humana progressiva, e experimentadas pela alma humana em evolução.
E Jesus continuou dizendo: “Em Jerusalém os líderes religiosos formularam as várias doutrinas dos seus instrutores tradicionais e dos profetas de outras épocas, formando um sistema estabelecido de crenças intelectuais, em uma religião autoritária.
O apelo de todas essas religiões é, sobretudo, à mente. E agora estamos para entrar em um conflito mortal com tal religião, pois iremos muito em breve começar a proclamação ousada de uma nova religião – uma religião que não é uma religião no sentido atualmente dado a essa palavra, uma religião que faz o seu apelo principal ao espírito divino do meu Pai, que reside na mente do homem; uma religião que tirará a sua autoridade dos frutos da sua aceitação; e esses frutos irão certamente aparecer na experiência pessoal de todos aqueles que real e verdadeiramente tornam-se apoiadores e crentes das verdades dessa comunhão espiritual mais elevada”.
E apontando para cada um dos vinte e quatro, e chamando-os pelo nome, Jesus disse: “E, agora, qual de vós preferiria tomar esse caminho fácil, conformando-se a uma religião estabelecida e fossilizada, como a que é defendida pelos fariseus em Jerusalém, a sofrer as dificuldades e perseguições que virão juntas com a missão de proclamar um caminho melhor de salvação para os homens, podendo nesse caminho experimentardes a satisfação de descobrir por vós próprios as belezas das realidades de uma experiência viva e pessoal, as verdades eternas e a grandiosidade suprema do Reino do céu? Será que sois amedrontados e moles; será que buscais coisas fáceis? Estais com medo de confiar o vosso futuro nas mãos do Deus da verdade, e de quem sois filhos? Estais desconfiados do Pai, cujos filhos sois vós? Será que ireis voltar ao caminho fácil da certeza e da acomodação intelectual, na religião da autoridade tradicional, ou ireis preparar-vos para ir à frente comigo, até aquele futuro incerto e turbulento, da proclamação das novas verdades da religião do espírito, o Reino do céu nos corações dos homens?”
Todos os seus vinte e quatro ouvintes puseram-se de pé, com a intenção de querer dar uma resposta unânime de lealdade, a esse apelo emocional de Jesus, como os que jamais fez a eles. E Jesus levantou a sua mão e impediu-os, dizendo: “Ide agora, cada um por si, cada homem a sós com o Pai, e encontrai uma resposta não emocional para a minha pergunta e, tendo encontrado uma atitude verdadeira e sincera de alma, dizei a vossa resposta livre e ousadamente ao meu Pai e vosso Pai, cuja vida infinita de amor é o espírito mesmo da religião que proclamamos”.
Os evangelistas e os apóstolos separaram-se, por um curto espaço de tempo. Os seus espíritos ficaram elevados, as suas mentes inspiradas e as suas emoções tornaram-se poderosamente agitadas por tudo o que Jesus havia dito. Mas quando André os chamou para reunirem-se, o Mestre apenas disse: “Vamos retomar a nossa viagem. Iremos para a Fenícia, onde permaneceremos um pouco, e todos vós deveríeis orar para que o Pai transforme as vossas emoções de corpo e de mente, nas lealdades mais elevadas da mente e nas experiências mais satisfatórias do espírito”.
Quando viajavam estrada abaixo os vinte e quatro estavam silentes, mas em breve eles começaram a falar uns com os outros, e às três horas, naquela tarde eles não podiam ir adiante; então pararam, e Pedro, indo até Jesus, disse: “Mestre, tu nos disseste as palavras da vida e da verdade. Nós gostaríamos de ouvir mais; nós te suplicamos que nos fale mais a respeito dessas questões”.
E, assim, enquanto eles estavam parados à sombra da encosta, Jesus continuou a ensinar-lhes a respeito da religião do espírito, dizendo em essência:
Vós viestes de entre os vossos companheiros que escolheram permanecer satisfeitos com uma religião da mente, que almejam pela segurança e preferem o conformismo. Vós escolhestes trocar os vossos sentimentos, de certeza autoritária, pela segurança
do espírito, que vem da fé cheia de audácia e progressão. Vós ousastes protestar contra a pegajosa prisão da religião institucionalizada e rejeitar a autoridade das tradições escritas, que estão agora sendo consideradas como a palavra de Deus. O nosso Pai, de fato, falou por intermédio de Moisés, Elias, Isaías, Amós e Oséias, mas Ele não cessou de ministrar palavras de verdade ao mundo, quando esses profetas antigos colocaram um fim nas suas afirmações. Meu Pai não tem preferências por raças, nem por gerações, no sentido de que a palavra da verdade seja condescendida a uma idade e contida em uma outra. Não cometais a loucura de chamar de divino àquilo que é totalmente humano, e não deixeis de perceber as palavras da verdade mesmo não provindo dos oráculos tradicionais de suposta inspiração.
Eu vos convoquei a nascer de novo, a nascer do espírito. Eu vos tirei das trevas do autoritarismo, da letargia da tradição, para a luz transcendente da realização da possibilidade de fazerdes, para vós próprios, a maior descoberta que é possível à alma humana realizar – a experiência superna de encontrar Deus para vós próprios, dentro de vós próprios, e por vós próprios, e de fazerdes a tudo isso, como um fato na vossa própria experiência pessoal. E, assim, vós podeis passar da morte para a vida, do autoritarismo da tradição para a experiência de conhecer a Deus; assim vós passareis das trevas à luz, de uma fé racial herdada a uma fé pessoal conquistada pela experiência real. E, por meio disso, ireis progredir, de uma teologia da mente, passada a vós pelos vossos ancestrais, a uma verdadeira religião do espírito, que será edificada nas vossas almas como um dom eterno.
A vossa religião passará da mera crença intelectual na autoridade tradicional, para a experiência factual da fé viva, que é capaz de captar a realidade de Deus e tudo o que está relacionado ao espírito divino do Pai. A religião da mente vos vincula irremediavelmente ao passado; a religião do espírito consiste na revelação progressiva e vos conclama a realizações mais elevadas e mais santificadas, de ideais espirituais e de realidades eternas.
Conquanto a religião da autoridade possa comunicar um sentimento presente de segurança estabelecida, por essa satisfação transitória vós pagais como preço a perda da vossa liberdade espiritual e da liberdade religiosa. Meu Pai não exige de vós, como preço de entrada no Reino do céu, que devêsseis forçar a vós próprios a aceitar uma crença em coisas que são espiritualmente repugnantes, profanas e não verdadeiras. Não é exigido de vós que o vosso próprio senso de misericórdia, justiça e verdade devesse ser ultrajado pela submissão a um sistema de formas religiosas e de cerimoniais desgastados. A religião do espírito vos deixa sempre livres para seguir a verdade até onde quer que o vosso espírito vos possa conduzir. E quem pode julgar – talvez esse espírito possa ter alguma coisa a comunicar a essa geração, que outras gerações tenham recusado-se a escutar?
Que vergonha que aqueles falsos instrutores religiosos arrastem as almas famintas de volta ao passado, distante e obscuro, e que lá as deixem! E assim essas pessoas desafortunadas ficam condenadas a tornar-se amedrontadas frente a todas as novas descobertas, a desconcertar-se com toda a nova revelação da verdade. O profeta que disse: “Aquele cuja mente permanece com Deus será mantido em perfeita paz”, não era um mero crente intelectual da teologia autoritária. Esse ser humano, conhecedor da verdade, tinha descoberto a Deus; ele não estava meramente falando de Deus.
Eu aconselho-vos a desistir da prática de sempre citar os profetas de outrora e de louvar os heróis de Israel e, em vez disso, a aspirar a tornar-vos profetas vivos do Altíssimo e heróis espirituais do Reino que virá. Honrar os líderes conhecedores de Deus, do passado, pode de fato valer a pena, mas por que,
ao fazer isto, deveis sacrificar a experiência suprema da existência humana: encontrar a Deus por vós próprios e conhecê-Lo nas vossas próprias almas?
Cada raça da humanidade tem a sua própria abordagem mental da existência humana; e, pois, a religião da mente deve sempre ser fiel a esses vários pontos de vista raciais. As religiões autoritárias nunca podem chegar à unificação. A unidade humana e a fraternidade entre os mortais somente podem ser alcançadas por meio da supradotação dada pela religião do espírito. As mentes podem diferir racialmente, mas toda a humanidade é residida pelo mesmo espírito divino e eterno. A esperança da irmandade humana só pode ser realizada quando, e na medida em que, as religiões mentais autoritárias divergentes tornarem-se impregnadas e eclipsadas pela religião unificadora e enobrecedora do espírito – a religião da experiência espiritual pessoal.
As religiões da autoridade só podem dividir os homens e arregimentá-los em frentes conscientes uns contra os outros; a religião do espírito progressivamente congregará os homens e os levará a tornar-se compreensivos e compassivos uns para com os outros. As religiões autoritárias exigem dos homens uniformidade na crença, mas isso é impossível de ser alcançado no estado presente de coisas no mundo. A religião do espírito requer apenas unidade de experiência – uniformidade de destino –, permitindo a plena diversidade de crenças. A religião do espírito requer uniformidade apenas de visão interior, não uniformidade de ponto de vista nem de enfoque. A religião do espírito não requer uniformidade de ponto de vista intelectual, requer apenas a unidade dos sentimentos espirituais. As religiões da autoridade cristalizam-se em credos sem vida; a religião do espírito cresce em alegria e na liberdade dos feitos enobrecedores, no serviço do amor e na ministração da misericórdia.
Mas, atenção, que nenhum de vós olhe com desdém aos filhos de Abraão, só porque eles caíram nesses maus tempos de esterilidade tradicional. Os nossos ancestrais entregaram-se à busca persistente e apaixonada de Deus, e eles encontraram-No, como nenhuma outra raça de homens jamais O conheceu desde os tempos de Adão, que sabia muito a esse respeito, pois era ele próprio um Filho de Deus. O meu Pai não deixou de observar a luta longa e incansável de Israel, desde os dias de Moisés, para encontrar Deus e para conhecer a Deus. Durante muitas gerações os judeus não cessaram de trabalhar, de suar, sofrer, penar e suportar os sofrimentos e experimentar as tristezas de um povo incompreendido e desprezado, tudo para que pudessem chegar um pouco mais perto da descoberta da verdade sobre Deus. E, não obstante todos os fracassos e fraquezas de Israel, os nossos pais, progressivamente, desde Moisés aos tempos de Amós e Oséias, revelaram cada vez mais, a todo o mundo, uma imagem sempre mais clara e mais verdadeira do Deus eterno. E, assim, o caminho foi preparado para a revelação ainda maior do Pai, da qual vós fostes chamados a compartilhar.
Nunca esqueçais de que só há uma aventura que pode ser mais satisfatória e emocionante do que tentar descobrir a vontade do Deus vivo, e essa é a experiência suprema de tentar honestamente fazer essa vontade divina. E não deixeis de lembrar-vos de que a vontade de Deus pode ser feita, em qualquer ocupação terrena. Não há vocações que sejam santas e vocações que sejam seculares. Todas as coisas são sagradas, nas vidas daqueles que são guiados pelo espírito; isto é, subordinados à verdade, enobrecidos pelo amor, dominados pela misericórdia, e controlados pela equanimidade – a justiça. O espírito que o meu Pai e eu enviaremos ao mundo não é apenas o Espírito da Verdade, mas é também o espírito da beleza idealista.
Deveis cessar de buscar a palavra de Deus apenas nas páginas dos registros antigos e com autoridade teológica. Aqueles de vós que nascestes do espírito de Deus ireis, doravante, discernir a palavra de Deus, independentemente de onde ela pareça ter
origem. Não há que se depreciar a verdade divina pelo fato de ser aparentemente humano o canal usado para a sua apresentação. Muitos dos vossos irmãos têm mentes que aceitam a teoria de Deus, enquanto espiritualmente deixam de compreender a presença de Deus. E essa é exatamente a razão pela qual eu tenho tão freqüentemente vos ensinado que o Reino do céu pode ser mais bem compreendido, se adquirirdes a atitude espiritual sincera de uma criança. Não é a imaturidade mental da criança o que eu vos recomendo, é mais a simplicidade espiritual desse pequeno ser, a sua facilidade de crer e a confiança plena dele. Não é tão importante que devêsseis considerar o fato da existência de Deus, é mais importante que cresçais na capacidade de sentir a presença de Deus.
Quando principiardes a encontrar Deus na vossa alma, em breve vós começareis a descobri-Lo nas almas dos outros homens e, finalmente, em todas as criaturas e criações de um poderoso universo. Mas que chance tem o Pai de aparecer como um Deus de lealdades supremas, e de ideais divinos, nas almas de homens que pouco ou nenhum tempo dedicam à contemplação reflexiva de tais realidades eternas? Se bem que a mente não seja o assento da natureza espiritual, a mente é de fato o portal para essa natureza espiritual.
Não cometais, contudo, o erro de tentar provar a outros homens que vós encontrastes a Deus; vós não podeis conscientemente gerar uma prova válida para tal, se bem que existam duas demonstrações positivas e poderosas do fato de que vós sois conhecedores de Deus, e elas são:
1. Os frutos do espírito de Deus, que se mostram na rotina diária da vossa vida.
2. O fato de todo o plano da vossa vida fornecer uma prova positiva de que vós tendes, sem reservas, arriscado tudo o que sois e que possuís, na aventura da sobrevivência após a morte, na busca da esperança de encontrar o Deus da eternidade, cuja presença vós provastes antecipadamente no tempo.
Agora, não vos equivoqueis, o meu Pai responderá sempre à mais débil chama de fé. Ele toma nota das emoções físicas e supersticiosas do homem primitivo. E com essas almas honestas, mas temerosas, cuja fé é tão fraca que chega a ser só um pouco mais do que a conformidade intelectual de uma atitude passiva de consentimento às religiões autoritárias, o Pai está sempre alerta para honrar e fomentar até mesmo todas essas fracas tentativas de alcançá-Lo. Mas vós, que fostes chamados, da escuridão para a luz, de vós é esperado que creiais de todo o coração; a vossa fé irá dominar as atitudes combinadas do corpo, da mente e do espírito.
Sois meus apóstolos e, para vós, a religião não se transformará em um abrigo teológico, para o qual podeis fugir com medo de enfrentar as duras realidades do progresso espiritual e a aventura idealista; mas a vossa religião irá transformar-se, mais, no fato da experiência real a testificar que Deus vos encontrou, vos idealizou, vos enobreceu e vos espiritualizou, e que já vos alistastes na aventura eterna de encontrar esse Deus, que já vos encontrou e vos filiou.
E quando Jesus terminou de falar, ele fez um sinal a André e, apontando para o oeste, para a Fenícia, disse: “Sigamos, pois, o nosso caminho”.