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A religião concretiza a sua mais elevada ministração social quando tem as menores ligações com as instituições seculares da sociedade. Nas idades passadas, desde que as reformas sociais ficaram grandemente confinadas ao domínio moral, a religião não teve de ajustar a sua atitude a mudanças amplas nos sistemas econômico e político. O problema principal da religião foi o esforço para substituir o mal pelo bem, dentro da ordem social existente da cultura política e econômica. A religião, por isso, acabou tendendo a perpetuar, indiretamente, a ordem estabelecida da sociedade, a fomentar a manutenção do tipo existente de civilização.
Todavia, a religião não deveria estar diretamente empenhada, nem na criação de ordens sociais novas, nem na preservação das antigas. A verdadeira religião de fato opõe-se à violência, como técnica de evolução social, mas não se opõe aos esforços inteligentes da sociedade para adaptar os seus usos e costumes, ajustando as suas instituições às novas exigências das condições econômicas e culturais.
A religião aprovou as reformas sociais ocasionais dos séculos passados, mas, no século vinte, ela é chamada, por necessidade, a enfrentar os ajustes devidos a uma reconstrução social abrangente e contínua. As condições de vida alteram-se tão rapidamente que as modificações institucionais devem ser grandemente aceleradas, e a religião deve, conseqüentemente, apressar a sua adaptação a essa ordem social nova e sempre mutante.
As invenções mecânicas e a disseminação do conhecimento estão modificando a civilização; certos ajustes econômicos e algumas mudanças sociais tornaram-se imperativos, caso se queira evitar o desastre cultural. Essa ordem social nova e vindoura não se estabelecerá complacentemente ainda por um milênio. A raça humana deve reconciliar-se com uma série de mudanças, de ajustes e de reajustes. A humanidade está a caminho de um destino planetário novo e irrevelado.
A religião deve tornar-se uma poderosa influência para a estabilidade moral e o progresso espiritual, funcionando dinamicamente em meio a essas condições sempre em modificação e aos ajustes econômicos sem fim.
A sociedade de Urântia jamais pode esperar estabelecer-se do modo como o fez em idades passadas. O barco social já levantou âncoras, saindo do abrigo das baías da tradição estabelecida, e já iniciou a travessia do alto-mar do destino evolucionário; e a alma do homem, como nunca dantes, na história do mundo, necessita examinar minuciosamente os seus mapas cartográficos de moralidade e consultar meticulosamente a bússola da orientação religiosa. A missão suprema da religião, como influência social, é estabilizar os ideais da humanidade, durante esses tempos perigosos de transição entre uma fase e a outra da civilização, e entre um nível da cultura e o outro.
A religião não tem novos deveres a cumprir, mas está convocada urgentemente a funcionar como um guia sábio e como uma conselheira experiente, em todas essas novas e rapidamente mutáveis situações humanas. A sociedade está-se tornando mais mecânica, mais compacta, mais complexa e mais criticamente interdependente. A religião deve funcionar no sentido de impedir que essas interassociações novas e íntimas se tornem mutuamente retrógradas ou mesmo destrutivas. A religião deve atuar como o sal cósmico, que impede que os fermentos do progresso destruam o sabor cultural da civilização. Apenas por meio do ministério da religião poderão essas novas relações sociais e perturbações econômicas resultar em irmandade durável.
Um humanitarismo sem Deus pode ser, humanamente falando, um nobre gesto, mas a verdadeira religião é o único poder que pode fazer crescer, de um modo perdurável, a sensibilidade de um grupo social às necessidades e sofrimentos de outros grupos. No passado, a religião institucional podia permanecer passiva, enquanto o estrato mais elevado da sociedade fazia ouvidos surdos aos sofrimentos e à opressão dos estratos mais baixos e desamparados. Nos tempos modernos, contudo, essas ordens sociais mais baixas não são mais tão abjetamente ignorantes nem tão impotentes na esfera política.
A religião não deve tornar-se organicamente envolvida no trabalho secular de reconstrução social e de reorganização econômica. Todavia, ela deve manter-se, de um modo ativo, à altura desses avanços da civilização, reafirmando com nitidez e com vigor os seus mandatos morais, os seus preceitos espirituais e a sua filosofia progressiva de viver humano e sobrevivência transcendental. O espírito da religião é eterno, mas a forma da sua expressão deve ser reformulada toda vez que o dicionário da linguagem humana for revisado.
A religião institucionalizada não se pode permitir ter inspiração nem prover a liderança, dentro da reconstrução social e a reorganização econômica iminentes em escala mundial, porque, infelizmente, ela se tornou mais ou menos algo como uma parte orgânica da ordem social e do sistema econômico, que estão destinados a passar por uma reconstrução. Apenas a religião real da experiência espiritual pessoal pode funcionar de um modo útil e criativo na presente crise da civilização.
A religião institucionalizada está, no presente momento, num impasse, dentro de um círculo vicioso. Ela não pode reconstruir a sociedade, sem primeiro reconstruir-se a si própria; e, sendo uma parte tão integral da ordem estabelecida, ela não pode reconstruir-se a si própria antes que a sociedade tenha sido radicalmente reconstruída.
Os religiosos devem funcionar, na sociedade, na indústria e na política, como indivíduos, não como grupos, nem como partidos ou instituições. Um grupo religioso que presume funcionar como tal, em separado das atividades religiosas, imediatamente torna-se um partido político, uma organização econômica, ou uma instituição social. O coletivismo religioso deve limitar os seus esforços ao apoio das causas religiosas.
Os religiosos não têm mais valor, nas tarefas de reconstrução social, do que os não religiosos, salvo pelo fato de que a religião deles pode haver-lhes conferido uma previsão cósmica maior e pode havê-los dotado com aquela sabedoria social superior que nasce do desejo sincero de amar a Deus acima de tudo e de amar a cada homem como a um irmão do Reino celeste. Uma ordem social ideal é aquela na qual todo homem ama o seu semelhante como ama a si próprio.
A igreja institucionalizada, no passado, pode ter parecido servir à sociedade, de modo a glorificar as ordens política e econômica estabelecidas, mas ela deve apressar-se
em cessar com esse tipo de ação se quiser sobreviver. A sua única atitude decente consiste em ensinar a não-violência, a doutrina da evolução pacífica, no lugar da revolução violenta – a paz na Terra e a boa vontade entre todos os homens.
A religião moderna acha difícil ajustar a sua atitude, durante as rápidas alterações sociais, apenas porque ela permitiu a si própria tornar-se muito arraigadamente tradicionalizada, dogmatizada e institucionalizada. A religião da experiência viva não encontra dificuldade em manter-se à frente de todos esses desenvolvimentos sociais e perturbações econômicas, em meio aos quais ela sempre funciona como um estabilizador moral, um guia social e um piloto espiritual. A verdadeira religião transporta, de uma idade para outra, aquela cultura que vale a pena e aquela sabedoria que nasce da experiência de conhecer a Deus e de esforçar-se para ser como Ele.
O cristianismo inicial era inteiramente isento de qualquer envolvimento civil, de engajamentos sociais e de alianças econômicas. Só o cristianismo institucionalizado posterior tornou-se uma parte orgânica da estrutura política e social da civilização ocidental.
O Reino do céu não é nem de ordem social nem de ordem econômica; é uma fraternidade exclusivamente espiritual, de indivíduos sabedores de Deus. É bem verdade que tal fraternidade, em si própria, é um fenômeno social novo e surpreendente, acompanhado de repercussões políticas e econômicas espantosas.
O religioso tem compaixão pelo sofrimento social, tem preocupação com a injustiça civil, não se isola do pensamento econômico, nem é insensível à tirania política. A religião influencia a reconstrução social diretamente, porque ela espiritualiza e idealiza individualmente o cidadão. Indiretamente, a civilização cultural é influenciada pela atitude desses religiosos individuais, quando eles se tornam membros ativos e influentes de vários grupos sociais, morais, econômicos e políticos.
Para atingir-se uma civilização altamente elevada em termos culturais, torna-se necessário que se forme, primeiro, o tipo ideal de cidadão e, então, os mecanismos sociais adequados e ideais, por meio dos quais essa cidadania pode controlar as instituições econômicas e políticas de uma sociedade humana tão avançada.
A igreja, tomada por um excesso de sentimentalidade falsa, há muito tem ministrado aos menos favorecidos e aos infelizes, e isso tem sido um bem; mas esse mesmo sentimento tem levado à perpetuação imprudente de linhagens degeneradas, o que retardou imensamente o progresso da civilização.
Muitos indivíduos reconstrucionistas sociais, ainda que repudiando veementemente a religião institucionalizada, são, afinal, zelosamente religiosos na propagação das suas reformas sociais. E assim é que a motivação religiosa pessoal, e mais ou menos não reconhecida, está exercendo um grande papel no programa atual de reconstrução social.
A grande fraqueza de todo esse tipo não reconhecido e inconsciente de atividade religiosa é que ele está incapacitado de aproveitar-se da crítica religiosa aberta e, portanto, de alcançar níveis proveitosos de autocorreção. É um fato que a religião não cresce, a menos que seja disciplinada pela crítica construtiva, amplificada pela filosofia, purificada pela ciência e nutrida pela comunhão leal.
Há sempre o grande perigo de que a religião se torne distorcida e desvirtuada, na busca de falsas metas, exatamente como quando, nos tempos de guerra, cada nação em contenda
prostitui a sua religião na propaganda militar. O zelo sem amor sempre causa danos à religião, do mesmo modo que a perseguição desvia as atividades da religião para a realização de algum impulso sociológico ou teológico.
A religião pode manter-se isenta de alianças seculares nefastas apenas se:
1. Tiver uma filosofia criticamente corretiva.
2. Mantiver-se livre de quaisquer alianças de ordem social, econômica e política.
3. Tiver comunidades criativas, confortadoras e que se desenvolvam na expansão do amor.
4. Intensificar o progressivo discernimento espiritual e a apreciação dos valores cósmicos.
5. Impedir o fanatismo por meio das compensações da atitude mental científica.
Os religiosos, como um agrupamento, não devem nunca se ocupar de outra coisa além da religião, se bem que qualquer dos religiosos, como cidadão individual, possa tornar-se o líder destacado de algum movimento de reconstrução social, econômica ou política.
É papel da religião criar, sustentar e inspirar no cidadão individual uma lealdade cósmica, que o conduza a alcançar o êxito de avançar em todos esses serviços sociais, difíceis, mas desejáveis.
A religião genuína empresta ao religioso uma fragrância social especial e gera o discernimento íntimo sobre a comunidade humana. Entretanto, a formalização de grupos religiosos, muitas vezes, destrói os mesmos valores pela promoção dos quais o grupo foi organizado. A amizade humana e a religião divina são mutuamente úteis e significativamente iluminadoras, desde que cresçam de um modo igual e harmônico. A religião dá um significado novo a todas as associações grupais – famílias, escolas e clubes. Confere novos valores aos jogos e exalta todo o verdadeiro humor.
A liderança social é transformada por meio do discernimento espiritual; a religião impede todos os movimentos coletivos de perderem de vista os seus verdadeiros objetivos. Assim como as crianças, a religião é a grande unificadora da vida da família, desde que seja de uma fé viva e crescente. A vida familiar não pode existir sem crianças; pode ser vivida sem religião, mas, se assim for, as dificuldades dessa associação humana íntima ficam enormemente multiplicadas. Durante as primeiras décadas do século vinte, é a vida da família, junto com a experiência religiosa pessoal, que mais sofre com a decadência conseqüente da transição entre as antigas lealdades religiosas e os novos significados e valores emergentes.
A verdadeira religião é um caminho de vida, cheio de significados, que se coloca dinamicamente face a face com o lugar-comum das realidades da vida diária. Todavia, se a religião deve estimular o desenvolvimento individual do caráter e aumentar a integração da personalidade, ela não deve ser padronizada. Se deve estimular a apreciação da experiência e servir de valor de atração, ela não deve ser estereotipada. Se a religião deve promover lealdades supremas, não deve ser demasiado formal.
Não importa que sublevações possam acompanhar o crescimento social e econômico da civilização, a religião será genuína e digna se fomentar, no indivíduo, uma experiência na qual prevaleça a soberania da verdade, da beleza e da bondade; pois esse é o verdadeiro conceito espiritual da suprema realidade. E esta, por meio do amor e da adoração, torna-se significativa na irmandade dos homens e na filiação a Deus.
Afinal, é aquilo em que se crê, mais do que aquilo que se conhece, que determina a conduta e rege as atuações pessoais. O conhecimento puramente factual exerce uma influência muito pequena sobre o homem mediano, a menos que esse conhecimento seja emocionalmente ativado. No entanto, a ativação da religião é supra-emocional, unificando toda a experiência humana em níveis transcendentais, por meio do contato com energias espirituais e a liberação dessas energias espirituais na vida mortal.
Durante os tempos de instabilidade psicológica do século vinte, em meio às perturbações econômicas, às contracorrentes morais, e às violentas marés sociológicas e ciclones. que são transições para uma era científica, na qual milhares e milhares de homens e mulheres tornam-se humanamente deslocados, ficando ansiosos, impacientes, temerosos, incertos e instáveis; como nunca antes, na história do mundo; e necessitam da consolação e estabilidade de uma religião sadia. Em meio a uma realização científica e um desenvolvimento mecânico sem precedentes, pairam a estagnação espiritual e o caos filosófico.
Não há perigo de que a religião se torne, mais e mais, uma questão privada – uma experiência pessoal –, desde que ela não perca a sua motivação de serviço social altruísta e amoroso. A religião tem sofrido muitas influências secundárias: da mistura súbita de culturas, da interfusão de credos, da diminuição da autoridade eclesiástica, das alterações sofridas pela vida familiar, além da urbanização e da mecanização no mundo.
O grande risco espiritual que o homem corre consiste no progresso parcial, no crescimento incompleto realizado às pressas: o abandono das religiões evolucionárias do medo, sem ter imediatamente ao seu alcance a religião reveladora do amor. A ciência moderna, particularmente a psicologia, tem enfraquecido tão somente aquelas religiões muito amplamente dependentes do medo, da superstição e da emoção.
A transição é sempre acompanhada pela confusão, e haverá pouca tranqüilidade no mundo religioso até que termine a grande luta atual entre as três filosofias da religião:
1. A crença espiritista (numa Deidade providencial), de muitas religiões.
2. A crença humanista e idealista de muitas filosofias.
3. As concepções mecanicistas e naturalistas de muitas ciências.
Essas três abordagens parciais da realidade do cosmo devem finalmente tornar-se harmonizadas por uma apresentação reveladora da religião, da filosofia e da cosmologia que retrate a existência trina do espírito, da mente e da energia, os quais procedem da Trindade do Paraíso e alcançam a unificação, no tempo-espaço, dentro da Deidade do Supremo.
A religião é uma experiência espiritual exclusivamente pessoal – conhecer a Deus como um Pai. O corolário dessa experiência – conhecer o homem como um irmão – requer o ajustamento do eu a outros eus, e isso envolve o aspecto social ou grupal da vida religiosa. A religião é antes um ajustamento interior ou pessoal, e torna-se, então, uma questão de serviço social ou de ajustamento grupal. O fato de o homem ser gregário determina, forçosamente, que os grupos religiosos venham à existência. O que acontece a esses grupos religiosos depende muito de uma liderança inteligente. Na sociedade primitiva, o grupo religioso não foi sempre muito
diferente dos grupos econômicos ou políticos. A religião tem sido sempre um agente conservador da moral e estabilizador da sociedade. E isso ainda é verdade, não obstante muitos socialistas e humanistas modernos ensinarem o contrário.
Vós deveis ter sempre em mente que a verdadeira religião existe para vos fazer conhecer a Deus como o vosso Pai, e ao homem como vosso irmão. A religião não é a crença escrava em ameaças de punição, nem em promessas mágicas de recompensas místicas futuras.
A religião de Jesus é a influência mais dinâmica que jamais estimulou a raça humana. Jesus abalou a tradição, destruiu o dogma e convocou a humanidade à realização dos seus ideais mais elevados no tempo e na eternidade – ser perfeito, como o próprio Pai no céu é perfeito.
A religião tem pouca chance de funcionar, até que o grupo religioso fique separado de todos os outros grupos – o agrupamento social dos membros espirituais do Reino do céu.
A doutrina da depravação total do homem destruiu muito do potencial que a religião tem para produzir as repercussões sociais de natureza elevadora e de valor de inspiração. Jesus procurou restaurar a dignidade do homem, quando declarou que todos os homens são filhos de Deus.
Qualquer crença religiosa que seja eficaz para a espiritualização do crente certamente terá repercussões poderosas na vida social de tal religioso. A experiência religiosa, infalivelmente, produz os “frutos do espírito” na vida diária do mortal que é guiado pelo espírito.
Tão certamente quanto compartilham as suas crenças religiosas, os homens criam grupos religiosos de alguma espécie, que finalmente gerarão metas comuns. Algum dia, os religiosos deixarão de tentar reunir-se se baseando em opiniões psicológicas e crenças teológicas, e efetivarão uma cooperação real, com base na unidade de ideais e de propósitos. As metas, mais do que as crenças, é que devem unificar os religiosos. Já que a verdadeira religião é uma questão de experiência espiritual pessoal, é inevitável que cada religioso, individualmente, deva ter a sua interpretação própria e pessoal da realização dessa experiência espiritual. Que o termo “fé” represente a relação individual com Deus, mais do que a formulação da crença naquilo que algum grupo de mortais tenha sido capaz de escolher como sendo uma atitude religiosa em comum. “Tu tens fé? Então mantém-na para ti próprio.”
À fé interessa apenas captar os valores ideais, e isso é demonstrado na declaração feita no Novo Testamento de que a fé é a essência das coisas pelas quais se espera, e a evidência das coisas que não se vêem.
O homem primitivo pouco esforço fez para colocar as suas convicções religiosas em palavras. A sua religião era antes dançada, mais do que pensada. Os homens modernos têm imaginado muitos credos e têm criado muitos critérios para a fé religiosa. Os religiosos do futuro deverão viver a sua religião e dedicar-se ao serviço sincero da irmandade dos homens. É chegada a hora de o homem ter uma experiência religiosa tão pessoal e tão sublime que só possa ser compreendida e expressa por “sentimentos que são profundos demais para serem expressos em palavras”.
Jesus não exigiu que os seus seguidores se reunissem periodicamente e que recitassem fórmulas rituais indicadoras das suas crenças comuns. Ele apenas ordenou que eles se reunissem para fazer algo, factualmente – compartilhar da ceia comunitária em lembrança da sua vida de auto-outorga em Urântia.
Que erro não cometem os cristãos quando, ao apresentarem Cristo como o ideal supremo da liderança espiritual, ousam exigir que homens e mulheres, conscientes de Deus,
rejeitem a liderança histórica dos homens conhecedores de Deus que contribuíram para a sua iluminação particular, nacional ou racial, em épocas passadas.
O sectarismo é uma doença da religião institucionalizada, enquanto o dogmatismo é uma escravização da natureza espiritual. De longe, é melhor ter uma religião sem uma igreja, do que uma igreja sem religião. O tumulto religioso do século vinte não indica, em si e por si mesmo, uma decadência espiritual. A confusão vem antes do crescimento, tanto quanto antes da destruição.
Há um propósito, de fato, na socialização da religião. É propósito das atividades religiosas grupais dramatizar as lealdades à religião, exagerar as seduções da verdade, da beleza e da bondade; fomentar as atrações dos valores supremos; elevar os serviços feitos na fraternidade altruísta; glorificar os potenciais da vida familiar; promover a educação religiosa; prover o conselho sábio e a orientação espiritual; e encorajar a adoração grupal. E todas as religiões vivas encorajam a amizade humana, conservam a moralidade, promovem o bem-estar da comunidade, e facilitam a disseminação do evangelho essencial das suas respectivas mensagens de salvação eterna.
No entanto, quando a religião torna-se institucionalizada, porém, o seu poder para o bem fica reduzido, ao passo que as possibilidades para o mal se tornam grandemente multiplicadas. Os perigos da religião formalizada são: a fixação das crenças e a cristalização dos sentimentos; a acumulação de direitos e interesses adquiridos com um crescimento da secularização; a tendência para a padronização e a fossilização da verdade; o desvio da religião para o serviço da igreja, em vez do serviço de Deus; a inclinação dos líderes de tornarem-se administradores, em vez de ministradores; a tendência a formar seitas e divisões competitivas; o estabelecimento de uma autoridade eclesiástica opressiva; a criação da atitude aristocrática do tipo “povo-escolhido”; o estímulo ao surgimento de idéias falsas e exageradas sobre o sagrado; a transformação da religião em algo rotineiro e a petrificação da adoração; a tendência a venerar o passado e ignorar as solicitações do presente; o fracasso em fazer interpretações atuais da religião; o envolvimento com as funções das instituições seculares; a criação do mal que é a discriminação por castas religiosas; o perigo de a religião transformar-se num juiz ortodoxo intolerante; o fracasso de manter vivo o interesse da juventude aventurosa e a perda gradativa da mensagem salvadora do evangelho da salvação eterna.
A religião formal restringe os homens nas suas atividades espirituais pessoais, em vez de liberá-los para o serviço mais elevado de edificadores do Reino.
Embora as igrejas e todos os outros grupos religiosos devam permanecer distantes de todas as atividades seculares, ao mesmo tempo, a religião não deve fazer nada para impedir ou retardar a coordenação social das instituições humanas. A vida deve continuar a crescer na sua significação; o homem deve continuar a sua reforma da filosofia e o seu esclarecimento da religião.
A ciência política deve efetuar a reconstrução da economia e da indústria por meio das técnicas que aprende das ciências sociais e pela luz do discernimento interior e dos motivos proporcionados pelo viver religioso. Em toda reconstrução social, a religião proporciona uma estabilizadora lealdade a um objetivo transcendente, a uma meta firme que permanece além e acima do objetivo imediato e temporal. No centro das confusões de um meio ambiente que se transforma rapidamente, o homem mortal necessita da sustentação de uma vasta perspectiva cósmica.
A religião inspira o homem a viver corajosa e jubilosamente na face da Terra; ela reúne a paciência e a paixão, a luz do discernimento interior e o zelo, a compaixão e o poder, os ideais e a energia.
O homem nunca poderá decidir sabiamente sobre as questões temporais, nem transcender o egoísmo dos interesses pessoais, a menos que medite em presença da soberania de Deus e conte com as realidades dos significados divinos e valores espirituais.
A interdependência econômica e a fraternidade social irão, finalmente, conduzir à fraternidade. O homem é naturalmente um sonhador, mas a ciência está chamando-o à sensatez, de modo que a religião poderá, em breve, estimulá-lo com um perigo muito menor de precipitar reações fanáticas. As necessidades econômicas atrelam o homem à realidade, e a experiência religiosa pessoal coloca esse mesmo homem frente a frente com as realidades eternas de uma cidadania cósmica sempre em expansão e em progresso.
[Apresentado por um Melquisedeque de Nebadon.]