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A experiência da vivência religiosa dinâmica transforma o indivíduo medíocre numa personalidade de poder idealístico. A religião contribui para o progresso de todos, fomentando o crescimento de cada indivíduo, e o progresso de cada um é aumentado por meio da realização de todos.
O crescimento espiritual é estimulado mutuamente pela associação íntima com outros religiosos. O amor propicia o solo para o crescimento religioso — uma atração objetiva, em lugar de uma gratificação subjetiva — e ainda proporciona a suprema satisfação subjetiva. E a religião enobrece a lida comum da vida diária.
Embora a religião produza o crescimento dos significados e um engrandecimento dos valores, o mal sempre surge quando avaliações puramente pessoais são elevadas ao nível do absoluto. Uma criança avalia uma experiência de acordo com o seu conteúdo de prazer; a maturidade é proporcional à substituição do prazer pessoal pelos significados mais elevados, e mesmo pela lealdade aos conceitos mais elevados das situações diversificadas da vida e das relações cósmicas.
Algumas pessoas acham-se ocupadas demais para poderem crescer e, por isso, expõem-se ao grave perigo de estagnação espiritual. Devem ser tomadas providências para o crescimento dos significados, em idades diferentes, em culturas sucessivas e nos estágios passageiros da civilização que avança. Os principais inibidores do crescimento são o preconceito e a ignorância.
Dai a cada criança em desenvolvimento uma oportunidade de fazer com que a sua própria experiência religiosa cresça; não imponhais a ela a experiência já pronta do adulto. Lembrai-vos de que o progresso, ano a ano, dentro de um regime educacional estabelecido, não significa necessariamente um progresso intelectual, e muito menos um crescimento espiritual. O aumento do vocabulário não significa desenvolvimento de caráter. O crescimento não é indicado verdadeiramente por meros produtos, mas, muito mais, pelo progresso. O crescimento educacional verdadeiro é indicado pelo engrandecimento dos ideais, por uma apreciação maior dos valores, por novos significados para os valores e por uma maior lealdade aos valores supremos.
As crianças ficam impressionadas permanentemente apenas pela lealdade dos seus companheiros adultos; os preceitos, ou mesmo o exemplo, não têm uma influência duradoura. As pessoas leais são pessoas em crescimento, e o crescimento é uma realidade que causa impressão e que inspira. Vivei lealmente hoje – crescei –, e o amanhã responderá por si. A maneira mais rápida de um girino tornar-se uma rã é vivendo lealmente cada momento como um girino.
O solo essencial ao crescimento religioso pressupõe uma vida progressiva de auto-realização, de coordenação das propensões naturais, de exercício da curiosidade, de um desfrutar das aventuras razoáveis da experimentação de sentimentos de satisfação, de fazer o temor funcionar como estímulo para a atenção e a consciência, de sedução pelo maravilhoso e de uma consciência normal de pequenez, de humildade. O crescimento é também
baseado na descoberta de si, acompanhada da autocrítica – a consciência; pois a consciência é realmente a crítica voltada para si próprio, por meio da própria escala de valores dos ideais pessoais.
A experiência religiosa é influenciada de um modo marcante pela saúde física, pelo temperamento herdado e pelo meio social. Contudo, as condições temporais não inibem o progresso espiritual interno de uma alma dedicada a fazer a vontade do Pai no céu. Em todos os mortais normais, estão presentes certos impulsos inatos para o crescimento e para a auto-realização, que funcionam se não forem especificamente inibidos. A técnica certa de alimentar esse dom, que é parte do potencial de crescimento espiritual, é manter uma atitude de devoção, de todo o coração, aos valores supremos.
A religião não pode ser outorgada, recebida, emprestada, aprendida, nem perdida. É uma experiência pessoal, que se amplia proporcionalmente à busca crescente dos valores finais. O crescimento cósmico, assim, acompanha a acumulação de significados e a elevação sempre em expansão dos valores. Contudo, o crescimento em nobreza é, em si mesmo, sempre inconsciente.
Os hábitos religiosos de pensar e agir contribuem para a economia do crescimento espiritual. Pode-se desenvolver uma predisposição religiosa de reações favoráveis aos estímulos espirituais, uma espécie de reflexo condicionado espiritual. Os hábitos que favorecem o crescimento religioso abrangem o cultivo da sensibilidade para os valores divinos, o reconhecimento do viver religioso nos outros, a meditação reflexiva dos significados cósmicos, o fervor da adoração ao resolver os problemas, o compartilhar da própria vida espiritual com os semelhantes, o evitar do egoísmo, a recusa de abusar da misericórdia divina e o viver como se estivesse na presença de Deus. Os fatores para o crescimento religioso podem ser intencionais, mas o crescimento, em si, é invariavelmente inconsciente.
A natureza inconsciente do crescimento religioso não significa, contudo, que seja uma atividade a operar nos domínios supostos do subconsciente do intelecto humano; significa, antes, atividades criativas nos níveis supraconscientes da mente mortal. A experiência da compreensão da realidade do crescimento religioso inconsciente é a maior prova positiva da existência funcional da supraconsciência.
O desenvolvimento espiritual depende, em primeiro lugar, da manutenção de uma conexão espiritual viva com as verdadeiras forças espirituais e, em segundo lugar, da produção contínua de frutos espirituais: dando aos semelhantes a ministração daquilo que foi recebido dos próprios benfeitores espirituais. O progresso espiritual é fundamentado no reconhecimento intelectual da própria pobreza espiritual combinada à autoconsciência da fome de perfeição, ao desejo de conhecer a Deus e de ser como Ele, com um propósito verdadeiro de fazer a vontade do Pai no céu, de todo coração.
Inicialmente o crescimento espiritual é um despertar para as necessidades e, em seguida, um discernimento dos significados e, depois, uma descoberta dos valores. A evidência do verdadeiro desenvolvimento espiritual consiste em demonstrar uma personalidade humana motivada pelo amor, animada pela ministração não egoísta e dominada pela adoração sincera dos ideais de perfeição da divindade. E toda essa experiência constitui a realidade da religião, em contraste com a das meras crenças teológicas.
A religião pode progredir até aquele nível de experiência em que se torna uma técnica esclarecida e sábia de reação espiritual ao universo. Tal religião glorificada pode funcionar em três níveis da personalidade humana: o intelectual,
o moroncial e o espiritual; sobre a mente, sobre a alma em evolução e junto ao espírito residente.
A espiritualidade imediatamente passa a ser indicadora da vossa proximidade de Deus e a medida da vossa capacidade de servir aos vossos semelhantes. A espiritualidade realça a capacidade de descobrir a beleza nas coisas, de reconhecer a verdade nos significados, e de descobrir a bondade nos valores. O desenvolvimento espiritual é determinado por essas capacidades e é diretamente proporcional à eliminação das qualidades egoístas do amor.
O status espiritual real é a medida do vosso alcance da Deidade, da vossa sintonização com o Ajustador. O alcançar da finalidade da espiritualidade é equivalente a atingir o máximo de realidade, o máximo de semelhança a Deus. A vida eterna é a busca sem fim dos valores infinitos.
A meta da auto-realização humana deveria ser espiritual, não material. As únicas realidades que valem o esforço são as divinas, as espirituais e eternas. O homem mortal encontra-se capacitado para desfrutar do prazer físico e da satisfação de afetos humanos; ele beneficia-se da lealdade da associação a outros homens e das instituições temporais; mas estas não são fundações eternas sobre as quais se deva edificar a personalidade imortal, a qual deve transcender ao espaço, vencer o tempo e alcançar o destino da perfeição divina e o serviço de finalitor.
Jesus retratou a profunda segurança do mortal sabedor de Deus ao dizer: “Para um crente do Reino, que conhece Deus, que importa se todas as coisas entrarem em colapso?” As seguranças temporais são vulneráveis, mas as seguranças espirituais são inexpugnáveis. Quando as torrentes da adversidade humana, do egoísmo, da crueldade, do ódio, da malícia e da inveja afluírem à porta da alma humana, vós podeis manter-vos na certeza de que há um bastião interior, a cidadela do espírito, que permanece absolutamente inatingível; e isso é verdadeiro, ao menos, para todo ser humano que tenha entregado a guarda da sua alma ao espírito residente do Deus eterno.
Depois dessa realização espiritual, assegurada pelo crescimento gradativo ou por uma crise específica, ocorre uma nova orientação da personalidade, bem como o desenvolvimento de uma nova medida de valores. Tais indivíduos nascidos do espírito têm as suas motivações tão renovadas na vida, que podem calmamente permanecer de pé, enquanto perecem as suas ambições mais caras e entram em colapso as suas mais ardentes esperanças; eles sabem positivamente que tais catástrofes não são senão os cataclismos retificadores que arruínam as suas criações temporais, como um prenúncio da construção de uma realidade mais nobre e mais duradoura, num nível novo e mais sublime de realização no universo.
A religião não é uma técnica para alcançar uma paz mental estática e abençoada; é um impulso para organizar a alma para o serviço dinâmico. É o alistamento de toda a individualidade no serviço leal de amar a Deus e de servir ao homem. A religião paga qualquer preço que seja essencial ao alcance da meta suprema, a recompensa eterna. Há uma plenitude de consagração, na lealdade religiosa, que é de uma sublimidade magnífica. E esse tipo de lealdade é socialmente eficaz e espiritualmente progressivo.
Para o religioso, a palavra Deus torna-se um símbolo que significa uma aproximação à realidade suprema e um reconhecimento ao valor divino. As preferências e os desagrados humanos não determinam o bem e o mal; os valores morais não crescem com os desejos realizados, nem com a frustração emocional.
Na contemplação dos valores, vós deveis distinguir entre aquilo que é valor e aquilo que tem valor. Vós deveis reconhecer a relação entre
as atividades agradáveis, a integração significativa delas e a realização engrandecida em níveis sempre mais elevados da experiência humana.
Significado é algo que a experiência acrescenta ao valor; é a consciência apreciativa dos valores. Um prazer isolado e puramente egoísta pode conotar uma desvalorização virtual dos significados, um gozo sem sentido que beira as raias do mal relativo. Os valores são experienciais, quando as realidades têm sentido e são mentalmente associadas, quando tais relações são reconhecidas e apreciadas pela mente.
Os valores não podem nunca ser estáticos; a realidade significa mudança, crescimento. A mudança sem crescimento, sem expansão de significado e sem a exaltação do valor, nada vale – é mal em potencial. Quanto maior a qualidade da adaptação cósmica, mais significado qualquer experiência traz. Os valores não são ilusões conceituais; eles são reais, mas sempre dependem do ato dos relacionamentos. Os valores são sempre tanto factuais quanto potenciais – não o que foi, mas o que é e o que está para ser.
A associação dos factuais e dos potenciais equivale ao crescimento, à realização experiencial dos valores. Contudo, o crescimento não é mero progresso. O progresso é sempre significativo, mas torna-se relativamente sem valor, se não vier acompanhado do crescimento. O valor supremo da vida humana consiste no crescimento dos valores, no progresso dos significados e na realização da inter-relação cósmica de ambas essas experiências. E tal experiência é equivalente à consciência de Deus. Esse mortal, se bem que não seja supranatural, está tornando-se verdadeiramente supra-humano; uma alma imortal que está evoluindo.
O homem não pode provocar o crescimento, mas ele pode gerar as condições favoráveis para tanto. O crescimento é sempre inconsciente, seja ele físico, intelectual ou espiritual. E assim cresce o amor; ele não pode ser criado, nem manufaturado, nem comprado; deve crescer. A evolução é uma técnica cósmica de crescimento. O crescimento social não pode ser assegurado pela legislação, e o crescimento moral não é garantido por uma administração melhor. O homem pode manufaturar uma máquina, mas o seu real valor deve derivar da cultura humana e da apreciação pessoal. A única contribuição do homem para o crescimento é a mobilização dos poderes totais da sua personalidade – a fé viva.
O viver religioso é o viver devotado, e o viver devotado é o viver criativo, original e espontâneo. Novas percepções religiosas surgem de conflitos que iniciam a escolha de novos e melhores hábitos de reação, no lugar de formas antigas e inferiores de reação. Novos significados emergem apenas em meio a conflitos; e o conflito persiste apenas em face da recusa de esposar os valores mais elevados, portadores de significados superiores.
As perplexidades religiosas são inevitáveis; não pode haver nenhum crescimento sem conflito psíquico e sem agitação espiritual. A organização de um modelo filosófico de vida requer uma considerável perturbação nos domínios filosóficos da mente. A lealdade não é exercitada em nome daquilo que é grande, bom, verdadeiro e nobre, sem uma batalha. O esforço é seguido do esclarecimento da visão espiritual e da ampliação do discernimento de visão cósmica. E o intelecto humano reluta contra ser desmamado da alimentação das energias não espirituais da existência temporal. A mente animal indolente rebela-se com o esforço exigido pela luta na solução dos problemas cósmicos.
Entretanto, o grande problema do viver religioso consiste na tarefa de unificar os poderes da alma da personalidade, por meio da predominância do AMOR. A saúde, a eficiência mental e a felicidade surgem da unificação dos sistemas físicos, dos sistemas
mentais e dos sistemas espirituais. De saúde e de sanidade o homem entende bastante, mas de felicidade ele só entendeu de fato pouquíssimo. A felicidade mais elevada está indissoluvelmente ligada ao progresso espiritual. O crescimento espiritual gera um júbilo duradouro, uma paz que ultrapassa qualquer entendimento.
Na vida física, os sentidos dizem sobre a existência das coisas; a mente descobre a realidade das significações; mas a experiência espiritual revela ao indivíduo os verdadeiros valores da vida. Esses altos níveis de vida humana são alcançados no supremo amor a Deus e no amor não egoísta pelo homem. Se vós amais o vosso semelhante, vós deveis ter descoberto os seus valores. Jesus amou tanto os homens porque atribuía a eles um valor muito elevado. Vós podeis melhor descobrir os valores dos vossos companheiros, descobrindo a sua motivação. Se alguém vos irrita, causa a emoção de ressentimentos, vós devíeis buscar discernir compassivamente o seu ponto de vista, as suas razões para uma conduta de tal modo censurável. Uma vez que tenhais compreendido o vosso semelhante, vós vos tornareis tolerantes, e essa tolerância amadurecerá a amizade transformando-a em amor.
Com os olhos da vossa mente, trazei à vossa lembrança o quadro de um dos vossos ancestrais primitivos dos tempos das cavernas – um pequeno rosnador, disforme e sujo, um homem pesado, de pernas arqueadas, de porrete levantado, respirando ódio e animosidade, enquanto olha ferozmente para a frente. Esse quadro dificilmente retrata a dignidade divina do homem. Contudo, ele nos permite ampliar o retrato. Em frente a esse humano animado, um tigre dente-de-sabre está em posição de ataque. Atrás dele, uma mulher e duas crianças. Imediatamente, vós reconheceis que esse quadro representa o começo de muito daquilo que é bom e nobre na raça humana, mas o homem é o mesmo, em ambos os quadros. Apenas, no segundo arranjo, vós sois favorecidos com um horizonte amplo. E, nele, vós discernis a motivação desse mortal em evolução. A sua atitude torna-se louvável, porque vós o compreendeis. Se vós pudésseis apenas penetrar os motivos dos vossos semelhantes, quão melhor vós os entenderíeis! Se vós pudésseis apenas conhecer os vossos semelhantes, vós iríeis finalmente encher-vos de amor por eles.
De fato, vós não podeis amar os vossos semelhantes por um mero ato de vontade. O amor nasce apenas de uma compreensão enérgica dos motivos e dos sentimentos do vosso próximo. Não é tão importante amar a todos os homens hoje quanto é importante que a cada dia vós aprendais a amar um ser humano a mais. Se a cada dia ou a cada semana vós alcançardes a compreensão de mais um dos vossos irmãos, e se for esse o limite da vossa capacidade, então certamente estareis socializando e verdadeiramente espiritualizando a vossa personalidade. O amor é contagiante e, quando a devoção humana é inteligente e sábia, o amor é mais cativante que o ódio. Todavia, apenas o amor genuíno e não egoísta é verdadeiramente contagioso. Se cada mortal pudesse apenas tornar-se o foco de uma afeição dinâmica, esse vírus benigno do amor penetraria logo a corrente da emoção sentimental da humanidade, numa tal extensão que toda a civilização seria abraçada pelo amor, e isso seria a realização da irmandade dos homens.
O mundo está repleto de almas perdidas. Não no sentido teológico, mas porque perderam o sentido de direção; e acham-se vagando na confusão entre os ismos e os cultos de uma era filosoficamente frustrada. Pouquíssimas almas aprenderam como estabelecer para si próprias uma filosofia de vida, em lugar de aceitar o autoritarismo religioso. (Os símbolos da religião socializada não são para serem desprezados como canais de crescimento, pois o leito do rio não é o rio.)
A progressão do crescimento religioso conduz, por meio do conflito, da estagnação até a coordenação, da insegurança até a fé sem dúvidas, da confusão na consciência
cósmica à unificação da personalidade, de um objetivo temporal até o eterno, do cativeiro do medo à liberdade da filiação divina.
Deveria ficar esclarecido que as profissões de fé aos supremos ideais – a percepção psíquica, emocional e espiritual daquele que tem consciência de Deus – podem vir de um crescimento natural e gradual ou podem, algumas vezes, ser experienciadas em certas conjunções, como numa crise. O apóstolo Paulo experimentou exatamente uma conversão súbita e espetacular naquele dia memorável na estrada de Damasco. Gautama Sidarta teve uma experiência semelhante na noite em que se assentou a sós e buscou penetrar o mistério da verdade final. Muitos outros têm tido experiências, e muitos crentes verdadeiros progrediram em espírito, sem nenhuma conversão súbita.
A maior parte dos fenômenos espetaculares relacionados às chamadas conversões religiosas é inteiramente psicológica pela sua natureza, mas, de quando em quando, ocorrem experiências que são também espirituais, pela sua origem. Quando a mobilização mental é absolutamente total, em qualquer nível da expansão na direção da realização espiritual, quando é perfeita a motivação humana de lealdade à idéia divina, então, muito freqüentemente, ocorre que o espírito residente sincroniza-se subitamente abaixo, com o propósito concentrado e consagrado da mente supraconsciente do mortal crente. E essas experiências de fenômenos intelectuais e espirituais unificados constituem as conversões, que consistem de fatores que estão além dos envolvimentos puramente psicológicos.
Todavia, a emoção por si só indica uma conversão falsa; deve ter-se fé, tanto quanto sentimentos. Visto que tal mobilização psíquica é parcial e que a motivação da lealdade humana é incompleta, nessa mesma medida a experiência da conversão será uma realidade mista: intelectual, emocional e espiritual.
Se se está disposto a reconhecer uma mente subconsciente teórica, como uma hipótese prática com a qual trabalhar, numa vida intelectual unificada de outro modo, então, para ser-se consistente, dever-se-ia postular um domínio semelhante e correspondente de atividade intelectual ascendente, como nível supraconsciente: uma zona de contato imediato com a entidade do espírito residente, o Ajustador do Pensamento. Os grandes perigos de todas as especulações psíquicas são que as visões e as outras experiências, chamadas de místicas, junto com os sonhos extraordinários, cheguem a ser considerados todos como comunicações divinas à mente humana. Nos tempos passados, os seres divinos revelaram-se a algumas pessoas sabedoras de Deus, não por causa dos transes místicos nem das visões mórbidas delas, mas a despeito de todos esses fenômenos.
Em contraste com a busca da conversão, o melhor modo de aproximação das zonas moronciais de contato possível com o Ajustador do Pensamento seria por meio da fé viva e da adoração sincera, da oração feita de todo o coração e sem egoísmo. De um modo geral, a maior parte das memórias que advieram de níveis inconscientes da mente humana tem sido confundida com revelações divinas e comandos espirituais.
Um grande perigo está ligado à prática habitual do sonho religioso, estando acordado; o misticismo pode tornar-se uma técnica para evitar-se a realidade, se bem que haja sido, algumas vezes, um meio de comunhão espiritual genuína. Períodos curtos de retirada da cena das ocupações da vida podem não ser seriamente perigosos, mas o isolamento prolongado da personalidade é bastante indesejável. Sob nenhuma circunstância deveria o estado de transe de consciência visionária ser cultivado como uma experiência religiosa.
As características do estado místico são a difusão da consciência, com ilhas vívidas de atenção focalizada, operando num intelecto relativamente passivo.
Tudo isso faz a consciência gravitar na direção do subconsciente mais do que na direção da zona de contato espiritual, o supraconsciente. Muitos místicos levaram a sua dissociação mental até o ponto de manifestações mentais anormais.
A atitude mais saudável de meditação espiritual é colocar-se em adoração reflexiva e em oração de agradecimento. A comunhão direta com o próprio Ajustador do Pensamento, tal como ocorreu nos últimos anos da vida de Jesus na carne, não deveria ser confundida com essas experiências chamadas de místicas. Os fatores que contribuem para a iniciação da comunhão mística denotam, em si, o perigo desses estados psíquicos. O estado místico é favorecido por coisas tais como: a fadiga física, o jejum, a dissociação psíquica, a experiência estética profunda, os impulsos sexuais vívidos, o medo, a ansiedade, o furor e as danças selvagens. A maior parte do material que surge como resultado dessas preparações preliminares tem a sua origem na mente subconsciente.
Por mais favoráveis que possam ter sido as condições para os fenômenos místicos, deveria ser claramente compreendido que Jesus de Nazaré nunca recorreu a tais métodos para a sua comunhão com o Pai do Paraíso. Jesus não tinha alucinações subconscientes, nem ilusões do supraconsciente.
As religiões evolucionárias e as religiões da revelação podem diferir bastante pelos métodos, mas são muito semelhantes pelas suas motivações. A religião não é uma função específica da vida; é antes um modo de viver. A verdadeira religião é uma devoção sincera a alguma realidade que o religioso considera ser de valor supremo para si próprio e para toda a humanidade. E as características mais destacadas de todas as religiões são: a lealdade inquestionável e a devoção, de coração puro, aos valores supremos. Essa devoção religiosa aos valores supremos é mostrada na relação da mãe, supostamente irreligiosa, para com o seu filho, e na lealdade fervorosa dos não religiosos a uma causa esposada por eles.
O valor supremo aceito para o religioso pode ser ignóbil ou falso mesmo, mas, apesar de tudo, ele é religioso. Uma religião é genuína na medida em que o valor que é tido como supremo é verdadeiramente uma realidade cósmica de valor espiritual.
Os sinais da sensibilidade humana ao impulso religioso abrangem as qualidades de nobreza e de grandeza. O religioso sincero é consciente da cidadania universal e é ciente de fazer contato com fontes de poder supra-humano. Ele emociona-se e energiza-se pela segurança de pertencer à fraternidade superior e enobrecida dos filhos de Deus. A consciência da dignidade própria tornou-se aumentada pelo estímulo da busca dos objetivos mais elevados no universo – as metas supremas.
O eu rendeu-se ao ímpeto intrigante de uma motivação todo-abrangente que impõe uma autodisciplina maior, que reduz o conflito emocional e torna a vida mortal verdadeiramente digna de ser vivida. O reconhecimento mórbido das limitações humanas é transformado na consciência natural das falhas mortais, associada à determinação moral e à aspiração espiritual de atingir as metas universais e superuniversais mais elevadas. E essa luta intensa para alcançar os ideais supramortais é sempre caracterizada por uma paciência crescente, pela indulgência, pela fortaleza e pela tolerância.
A verdadeira religião, contudo, é um amor vivo, uma vida de serviço. O distanciamento do religioso de muito daquilo que é puramente temporal e trivial nunca leva ao isolamento social, e não deveria destruir o senso de humor. A religião genuína não tira nada
da existência humana, mas acrescenta, sim, um novo sentido a tudo na vida; gera novos tipos de entusiasmo, de zelos e de coragem. Pode até mesmo engendrar o espírito das cruzadas, o que é mais do que perigoso, se não for controlado pelo discernimento espiritual e pela devoção leal às obrigações sociais comuns das lealdades humanas.
Um dos mais surpreendentes sinais para a identificação da vida religiosa é aquela paz dinâmica e sublime, aquela paz que está além de todo entendimento humano, aquele equilíbrio cósmico que indica a ausência de toda dúvida e tumulto. Tais níveis de estabilidade espiritual são imunes ao desapontamento. Os religiosos assim são como o apóstolo Paulo, que disse: “Estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem os poderes, nem as coisas presentes, nem as coisas que estão por vir, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra coisa será capaz de nos separar do amor de Deus”.
Há um senso de segurança, associado à realização da glória triunfante, que reside na consciência do religioso que compreendeu a realidade do Supremo e persegue a meta do Último.
Mesmo a religião evolucionária é tudo isso, em lealdade e grandeza, porque é uma experiência genuína. Contudo, a religião revelada tanto tem de excelência quanto de autenticidade. As novas lealdades, na visão espiritual ampliada, criam novos níveis de amor e de devoção, de serviço e de companheirismo; e toda essa perspectiva social ampliada produz uma consciência maior da Paternidade de Deus e da irmandade dos homens.
A diferença característica entre a religião que evoluiu e a religião revelada é uma qualidade nova de sabedoria divina, que é acrescentada à sabedoria humana puramente experiencial. No entanto, é a experiência dentro das religiões humanas que desenvolve a capacidade para a recepção das dádivas subseqüentes de mais sabedoria divina e discernimento cósmico.
Embora o mortal comum de Urântia não possa esperar atingir a alta perfeição de caráter que Jesus de Nazaré adquiriu, enquanto permaneceu na carne, é totalmente possível a todo mortal crente desenvolver uma personalidade forte e unificada, pautando-se pelas linhas perfeccionadas da personalidade de Jesus. O aspecto singular da personalidade do Mestre não era tanto a sua perfeição, quanto a sua simetria, a sua unificação extraordinária e equilibrada. A apresentação mais efetiva de Jesus consiste em seguir o exemplo daquele que disse, enquanto gesticulava na direção do Mestre, de pé diante dos seus acusadores: “Eis o homem!”
A bondade infalível de Jesus tocava os corações dos homens, mas a sua força inflexível de caráter maravilhava os seus seguidores. Ele era verdadeiramente sincero; nada havia de hipócrita nele. Ele não tinha afetação; era sempre reanimadoramente autêntico. Nunca condescendia em pretensões, e nunca recorria à trapaça. Ele viveu a verdade, do mesmo modo que a ensinou. Ele foi a verdade. Foi forçado a proclamar a verdade salvadora à sua geração, ainda que tanta sinceridade algumas vezes haja causado dor. Ele foi inquestionavelmente leal a toda verdade.
O Mestre, porém, era tão razoável, tão acessível. Ele era tão prático em todas as suas ministrações e, ao mesmo tempo, todos os seus planos eram caracterizados por um senso comum tão santificado. Ele era tão liberto de qualquer tendência à extravagância, à irregularidade e à excentricidade. Nunca era caprichoso, esquisito nem histérico. Em todos os seus ensinamentos e em tudo o que fazia, havia uma discriminação depurada, ligada a um senso extraordinário daquilo que é apropriado.
O Filho do Homem foi sempre uma personalidade bem equilibrada. Mesmo os seus inimigos mantinham um respeito salutar por ele; eles chegavam mesmo a temer a sua presença. Jesus não conhecia o medo. Ele transbordava de entusiasmo divino, mas nunca se tornou um fanático. Era emocionalmente ativo, mas nunca inconstante. Era imaginativo, mas sempre prático. Ele enfrentava as realidades da vida com franqueza, mas nunca chegava a ficar embotado nem prosaico. Era corajoso, mas nunca descuidado; prudente, mas nunca covardemente. Ele era compassivo, mas não era sentimental; único, sem ser excêntrico. Ele era pio, mas não era santarrão. E era assim bem equilibrado, porque era perfeitamente bem unificado.
A originalidade de Jesus não era sufocante. Ele não estava preso pela tradição, nem limitado pela escravização a nenhum convencionalismo restritivo. Ele falava com uma confiança segura e ensinava com autoridade absoluta. Contudo, a sua originalidade superior não o levava a negligenciar as pérolas da verdade nos ensinamentos dos seus predecessores e contemporâneos. E o mais original dos seus ensinamentos foi a ênfase no amor e na misericórdia, em lugar do medo e do sacrifício.
Jesus era muito amplo de visão. Ele exortava os seus seguidores a pregar o evangelho a todos os povos. Não tinha nenhuma estreiteza de mente. O seu coração compassivo abraçava toda a humanidade, e mesmo um universo. Sempre a sua exortação era: “Quem quiser vir, que venha”.
De Jesus foi realmente dito: “Ele confiou em Deus”. Como um homem entre os homens, ele confiou de um modo muito sublime no Pai do céu. Ele confiou no seu Pai, como uma criança pequena confia no seu pai terreno. A sua fé foi perfeita, mas nunca presunçosa. Não importa quão cruel a natureza possa parecer, nem quão indiferente possa ser ao bem-estar do homem na Terra, Jesus nunca faltou com a sua fé. Ele era imune ao desapontamento e inatingível pela perseguição. Ele não permaneceu intacto diante do fracasso aparente.
Jesus amou os homens como irmãos, ao mesmo tempo reconhecendo quão diferentes eram os seus dons inatos e as suas qualidades adquiridas. “Ele escolheu o seu caminho de fazer o bem.”
Jesus era uma pessoa inusitadamente alegre, mas não era um otimista cego e pouco razoável. A sua palavra de constante exortação era: “Tende ânimo”. Ele podia manter a sua atitude confiante por causa da sua fé inabalável em Deus e na sua confiança imperturbável no homem. Ele demonstrou sempre uma consideração tocante por todos os homens, porque ele os amava e acreditava neles. E ainda foi sempre fiel às suas convicções e magnificamente firme na sua devoção de fazer a vontade do seu Pai.
O Mestre foi sempre generoso. Ele nunca se cansou de dizer: “Dar é mais abençoado do que receber”. Dizia ele: “Gratuitamente recebestes, dai gratuitamente”. E ainda, com toda a sua ilimitada generosidade, ele nunca foi esbanjador nem extravagante. Ele ensinou que vós deveis acreditar para receber a salvação. “Pois todo aquele que procura receberá.”
Ele era candidamente direto, mas sempre afável. Ele dizia: “Se assim não fosse, eu vos teria dito”. E era franco, mas sempre amigável. Era aberto no seu amor pelos pecadores e no seu ódio ao pecado. Contudo, mesmo com a sua surpreendente franqueza, ele foi infalivelmente justo.
Jesus era alegre de um modo consistente, não obstante algumas vezes ele bebesse profundamente da taça do sofrimento humano. Destemidamente, ele enfrentou as realidades da existência, e permaneceu pleno de entusiasmo pelo evangelho do Reino. Ele, porém, controlava o seu entusiasmo; nunca se deixou controlar por ele. Era dedicado sem reservas aos “assuntos do Pai”. Esse entusiasmo divino levou os seus irmãos não espiritualizados a pensarem que ele estava fora de si, mas o universo que o observava apreciava-o como modelo de sanidade e como arquétipo da suprema devoção mortal aos
altos padrões da vida espiritual. E o seu entusiasmo controlado era contagioso; os seus companheiros eram levados a compartilhar do seu otimismo divino.
Este homem da Galiléia não era um homem de tristezas; era uma alma da alegria. Estava sempre dizendo: “Rejubilai-vos na mais repleta alegria”. Todavia, quando o dever exigia, ele estava disposto a caminhar corajosamente no “vale da sombra da morte”. Ele era jubiloso, mas, ao mesmo tempo, humilde.
A sua coragem só era igualada pela sua paciência. Quando pressionado a agir prematuramente, ele apenas respondia: “Minha hora ainda não chegou”. Ele nunca tinha pressa; a sua serenidade era sublime. No entanto, freqüentemente, tornava-se indignado com o mal, e intolerante com o pecado. Muitas vezes, ele foi levado a resistir àquilo que era contrário ao bem-estar dos seus filhos da Terra. E a sua indignação contra o pecado levou-o a ficar enraivecido com os pecadores.
A coragem de Jesus era magnífica, mas não era nunca irrefletido. A sua palavra-chave foi: “não temais”. A sua bravura era elevada, e a sua coragem, freqüentemente heróica. No entanto, a sua coragem estava ligada à prudência e era controlada pela razão. Era uma coragem nascida da fé, não da presunção cega pela negligência. Ele era verdadeiramente valente, mas nunca atrevido.
O Mestre era um modelo de reverência. A prece, já na sua juventude, começava com: “Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome”. Ele era respeitoso até mesmo com o culto errôneo dos seus irmãos. Isso não o deteve, todavia, de condenar as tradições religiosas nem de atacar os erros das crenças humanas. Ele reverenciava a verdadeira santidade, e ainda podia apelar para os seus semelhantes dizendo: “Quem dentre vós me condena de pecado?”
Jesus foi grande, porque era bom e, mais, ele confraternizava com as crianças pequenas. Ele era gentil e despretensioso na sua vida pessoal e, ainda, era ele o homem perfeccionado de todo um universo. Os seus companheiros chamavam-no espontaneamente de Mestre.
Jesus foi a personalidade humana perfeitamente unificada. E ainda agora, como na época da Galiléia, ele continua a unificar a experiência mortal e a coordenar os esforços humanos. Ele unifica a vida, enobrece o caráter e simplifica a experiência. Ele entra na mente humana para elevá-la, para transformá-la e transfigurá-la. É literalmente verdade que: “Se qualquer homem tem Cristo Jesus dentro dele, ele é uma nova criatura; as velhas coisas estão passando; olhai, que todas as coisas estão-se tornando novas”.
[Apresentado por um Melquisedeque de Nebadon.]