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O LIVRO DE URANTIA


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DOCUMENTO 169

O ÚLTIMO ENSINAMENTO EM PELA

Na noite de segunda-feira, 6 de março, Jesus e os dez apóstolos chegaram ao acampamento de Pela. Foi essa a última semana da permanência de Jesus ali, e ele esteve muito ativo ensinando à multidão e instruindo os apóstolos. Todas as tardes pregava ao povo e todas as noites respondia às perguntas dos apóstolos e de alguns dos discípulos mais avançados que residiam no acampamento.

A notícia sobre a ressurreição de Lázaro tinha chegado ao acampamento dois dias antes da vinda do Mestre, e toda a gente estava ansiosa. Desde o episódio da alimentação dos cinco mil, nada acontecera para estimular tanto a imaginação do povo. E assim, no apogeu mesmo da segunda fase da ministração pública do Reino, é que Jesus planejou ensinar durante essa curta semana em Pela e então começar a viagem ao sul da Peréia, que conduziu às experiências finais e trágicas da última semana em Jerusalém.

Os fariseus e os sacerdotes principais tinham começado a formular as suas incriminações e a consolidar as acusações. Eles opunham-se aos ensinamentos do Mestre nos seguintes pontos:

1. Ele é amigo de publicanos e de pecadores; recebe os ímpios e até mesmo come com eles.

2. Ele é um blasfemo; fala de Deus como sendo o seu Pai e julga-se um igual a Deus.

3. Ele é um infrator da lei. Cura doenças no sábado, e de muitos outros modos burla a lei sagrada de Israel.

4. Ele está ligado a demônios. Realiza prodígios e faz milagres aparentes pelo poder de Belzebu, o príncipe dos demônios.

1. A PARÁBOLA DO FILHO PERDIDO

Na quinta-feira à tarde Jesus falou à multidão sobre a “Graça da Salvação”. No transcorrer desse sermão ele voltou a contar a história da ovelha e da moeda perdidas e então acrescentou a sua parábola favorita, a do filho pródigo. Disse Jesus:

“Vós tendes sido exortados pelos profetas, de Samuel a João, a buscar a Deus – a buscar a verdade. Eles sempre disseram: ‘Buscai o Senhor, enquanto ele pode ser encontrado’. E todos esses ensinamentos deveriam ser tomados de coração. Mas eu vim mostrar-vos que, ao mesmo tempo em que estais tentando encontrar a Deus, do mesmo modo Deus está buscando encontrar-vos. Muitas vezes eu vos contei a história do bom pastor que deixou as noventa e nove ovelhas do aprisco saindo em busca daquela que estava perdida e, ao encontrar a ovelha desviada, ele colocou-a


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sobre os ombros e, com ternura, levou-a de volta para o abrigo. Quando a ovelha perdida foi devolvida ao aprisco, vos lembrais que o bom pastor convocou os seus amigos e convidou-os para que se rejubilassem com a volta da ovelha que tinha estado perdida. E, novamente, eu digo que há mais júbilo no céu pelo pecador que se arrepende do que pelas noventa e nove pessoas justas que não necessitam de arrependimento. O fato de que algumas almas estejam perdidas apenas aumenta o interesse do Pai celeste. Eu vim a este mundo para cumprir o mandato do meu Pai, e realmente tem sido dito que o Filho do Homem é amigo de publicanos e de pecadores.

“Foi-vos ensinado que a aceitação divina vem após o vosso arrependimento e como o resultado de todos os vossos esforços de sacrifício e penitência, mas eu vos asseguro que o Pai vos aceita mesmo antes de vos haverdes arrependido e vos envia o Filho e os colaboradores dele para encontrar-vos e trazer-vos, com júbilo, de volta ao aprisco, ao Reino da filiação e ao progresso espiritual. Vós sois todos como ovelhas que se desviaram e eu vim para vos encontrar e salvar àqueles que estiverem perdidos.

“E vós devíeis lembrar-vos também da história da mulher que, tendo feito um colar de adorno, com dez moedas de prata, perdeu uma peça; então acendeu a lâmpada e varreu cuidadosamente a casa e manteve a busca; até que encontrou a peça de prata perdida. E, tão logo encontrou a peça que estava perdida, ela reuniu os seus amigos e vizinhos, dizendo: ‘Rejubilai comigo, pois eu encontrei a peça que estava perdida’. E assim novamente eu vos digo, há sempre júbilo na presença dos anjos do céu por causa de um pecador que se arrepende e que retorna para o abraço do Pai. E eu vos conto essa história para incutir em vós que o Pai e o seu Filho saem em busca daqueles que estão perdidos, e que nessa busca nós empregamos todas as influências capazes de ajudar-nos nos nossos esforços diligentes para encontrar aqueles que estão perdidos, aqueles que permanecem na necessidade de salvação. Assim, o Filho do Homem sai no deserto para buscar a ovelha que se desviou, ao mesmo tempo em que busca a moeda que foi perdida na casa. A ovelha extravia-se involuntariamente; a moeda cobre-se com o pó do tempo e esconde-se sob o acúmulo das coisas dos homens.

“E agora eu gostaria de contar-vos a história do filho imprudente de um fazendeiro abastado. Esse filho abandonou deliberadamente a casa do seu pai e saiu para uma terra estrangeira, onde teve muitas atribulações. Vós vos lembrais de que a ovelha desviou-se involuntariamente, mas esse jovem abandonou a sua casa premeditadamente. Foi assim:

“Um certo homem tinha dois filhos; um, o mais jovem, era alegre e despreocupado, estava sempre atrás de um divertimento e esquivando-se da responsabilidade, ao passo que o seu irmão mais velho era sério, sóbrio, trabalhador e disposto a assumir as responsabilidades. Ora, esses dois irmãos não se davam muito bem um com o outro; e estavam sempre brigando e discutindo. O mais jovem era alegre e vivaz, mas indolente, e não era confiável; o mais velho era estável e industrioso e, a um tempo egocêntrico, mal-humorado e convencido. O mais jovem gostava de divertir-se e evitava o trabalho; o mais velho devotava-se ao trabalho e raramente divertia-se. A ligação entre eles tornou-se tão desagradável que o filho mais jovem chegou ao seu pai e disse: ‘Pai, dá-me o terço que me caberia das vossas posses e permiti-me sair para o mundo e buscar a minha própria sorte’. E quando o pai ouviu esse pedido, sabendo quão infeliz estava o jovem na sua casa com o irmão mais velho, dividiu a sua propriedade, dando ao jovem a sua parte.

“Em poucas semanas o jovem reuniu todos os seus fundos e saiu em viagem a um país distante; mas, não encontrando nada proveitoso a fazer e que


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fosse também aprazível, logo gastou toda a sua herança em uma vida desenfreada. Depois que ele gastou tudo, uma grande fome surgiu naquele país, e ele viu-se na miséria. Assim, sofreu um grande infortúnio, mas, quando começou a passar fome, encontrou um emprego com um dos cidadãos daquele país, e foi enviado aos campos para alimentar os suínos. E o jovem ter-se-ia saciado com as sobras comidas pelos porcos, mas ninguém lhe dava nada.

“Um dia, quando estava muito faminto, caiu em si e disse: ‘Quantos criados do meu pai têm abundância de pão, enquanto eu morro de fome aqui, alimentando porcos em um país estrangeiro! Eu vou levantar-me para ir ao meu pai e lhe dizer: Pai, eu pequei contra o céu e contra ti. Não sou mais digno de ser chamado de filho teu; apenas disponha-te a fazer de mim um criado teu’. E, quando o jovem chegou a essa decisão, levantou-se e partiu em direção à casa do seu pai.

“Aquele pai, todavia, havia sofrido muito por causa do seu filho; tinha sentido uma saudade imensa do alegre jovem, ainda que irrefletido. O pai amava esse filho e esteve aguardando constantemente pelo seu regresso, de modo que no dia em que ele voltou para casa, quando ainda estava bem longe, o pai o viu e, sendo motivado pela compaixão do amor, correu para encontrá-lo e, com muita afeição, abraçou-o e o beijou. E depois disso, o filho viu o rosto lacrimejante do pai e disse: ‘Pai, eu pequei contra o céu e perante os vossos olhos; eu não sou digno de que me chames de filho’ – o jovem, contudo, não teve oportunidade de completar a sua confissão porque o pai, rejubilante, disse aos criados, os quais nessa altura vieram correndo: ‘Trazei depressa a melhor roupa dele, aquela que eu reservei, e ponde o anel de filho na sua mão e arrumai sandálias para os seus pés’.

“E então, depois que o feliz pai conduziu o jovem cansado e de pés doloridos até a casa, ele disse aos seus criados: ‘Trazei o novilho gordo e matai-o, e comamos e festejemos, pois este filho meu estivera morto e agora está vivo novamente; ele estivera perdido e foi encontrado’. E eles reuniram-se com o pai para rejubilarem-se com ele pelo retorno do seu filho.

“Nesse momento, enquanto celebravam, o filho mais velho chegou do seu dia de trabalho no campo e, à medida que se aproximava da casa, ia percebendo a música e a dança. Quando chegou à porta dos fundos, chamou um dos criados e perguntou sobre o significado de toda aquela festividade. Então disse o criado: ‘O teu irmão, há tanto tempo perdido, voltou para casa, e o teu pai matou o novilho gordo para comemorar o seu retorno, são e salvo. Vem para que tu possas também saudar o teu irmão e recebê-lo de volta à casa do teu pai’.

“Contudo, ao ouvir isso, o irmão mais velho ficou tão magoado e enraivecido que não queria entrar na casa. Quando o seu pai soube do seu ressentimento quanto às boas-vindas dadas ao seu irmão mais jovem, saiu para implorar que entrasse. Mas o filho mais velho não se deixaria levar pela persuasão do pai. E respondeu-lhe, com essas palavras: ‘Em todos esses anos eu tenho servido a ti, nunca transgredindo a menor das tuas ordens, e mesmo assim tu nunca me deste nem um cabrito para que eu me divertisse com os meus amigos. Eu permaneci aqui para cuidar-te todos esses anos, e tu nunca fizeste nenhuma festa por causa do meu serviço fiel; todavia, quando esse teu filho retorna, tendo esbanjado os teus bens com as prostitutas, tu te apressas em matar o novilho gordo e em festejá-lo’.

“Já que esse pai amava os seus dois filhos verdadeiramente, ele tentou raciocinar com o mais velho: ‘Mas, meu filho, tu tens estado comigo todo esse tempo, e tudo o que eu tenho é teu. Tu poderias ter matado um cabrito a qualquer momento para compartilhar a tua felicidade com os teus amigos. E seria oportuno que tu te juntasses a mim


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nesta alegria e felicidade pela volta do teu irmão. Pense nisto, meu filho, o teu irmão tinha estado perdido, se encontrou e voltou vivo para nós’!”

Essa foi entre todas uma das mais comoventes e eficientes entre todas as parábolas que Jesus já apresentou, para imprimir aos seus ouvintes a boa vontade do Pai em receber a todos que buscam a entrada no Reino do céu.

Jesus era muito afeiçoado a contar essas três histórias ao mesmo tempo. Ele apresentava a história da ovelha perdida para mostrar que, quando os homens afastam-se involuntariamente do caminho da vida, o Pai permanece atento a esses filhos perdidos e sai, com os seus Filhos, os verdadeiros pastores do rebanho, para procurar a ovelha perdida. Então Jesus contava a história da moeda perdida na casa para ilustrar quão completa é a busca divina por todos que estão confusos, confundidos ou cegos espiritualmente, de um outro modo qualquer, por causa dos cuidados e preocupações da vida. E então ele lançava-se a contar a parábola do filho perdido, da recepção dada na volta do filho pródigo, para mostrar quão completa é a reintegração do filho perdido na casa e no coração do Pai.

Muitas e muitas vezes durante os seus anos de ensinamento, Jesus contou e recontou a história do filho pródigo. Essa parábola e a história do bom samaritano eram os seus meios favoritos de ensinar sobre o amor do Pai e sobre a boa vizinhança entre os homens.

2. A PARÁBOLA DO AMINISTRADOR SAGAZ

Certa tarde, Simão zelote, comentando uma das afirmações de Jesus, disse: “Mestre, o que tu quiseste dizer quando hoje mencionaste que muitos dos filhos do mundo são mais sábios para a sua geração do que os filhos do Reino, pois são hábeis em conseguir amigos com as riquezas feitas pelas injustiças?” Jesus respondeu:

“Alguns de vós, antes de entrardes no Reino, fostes muito astutos para lidar com os vossos amigos nos negócios. Se fostes injustos e muitas vezes desleais, não obstante prudentes e previdentes, é porque fizestes os vossos negócios com vistas apenas para o lucro imediato e a segurança futura. Do mesmo modo agora devereis levar as vossas vidas no Reino de maneira a proporcionar alegria no presente, ao mesmo tempo que vos assegurareis do vosso júbilo futuro com os tesouros acumulados no céu. Se sois tão atentos ao efetuar os ganhos para vós próprios, quando a serviço do ego, por que vos empenhar menos quando estais ganhando almas para o Reino, já que agora sois servidores da irmandade dos homens e administradores de Deus?

“Podeis todos aprender uma lição com a história de um certo homem rico, que tinha um administrador astuto, mas injusto. Esse servidor não somente havia pressionado os clientes do seu senhor para o seu próprio ganho egoísta, mas tinha gastado e dissipado diretamente os fundos do seu senhor. Quando tudo isso finalmente chegou aos ouvidos do seu senhor, ele chamou o administrador diante de si; então perguntou-lhe qual o significado desses rumores, exigindo que prestasse imediatamente contas da sua administração e que se preparasse para entregar os negócios do seu senhor a uma outra pessoa.

“Ora, esse administrador infiel começou a dizer a si próprio: ‘O que vai ser de mim, já que estou a ponto de perder esta administração? Eu não tenho forças para cavar a terra, e para pedir eu tenho vergonha. Sei o que farei para assegurar-me de que, quando for despedido desta administração, eu seja bem recebido nas casas de todos aqueles que têm negócios com o meu senhor’. E então, chamando cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro:


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‘Quanto deves ao meu senhor?’ Ele respondeu: ‘Cem medidas de óleo’. Então disse o administrador: ‘Pega a tua conta na prancha de cera, senta-te rapidamente e muda-a para cinqüenta’. Em seguida indagou a um outro devedor: ‘Quanto deves?’ Ao que ele respondeu: ‘Cem medidas de trigo’. Então o administrador disse: ‘Toma a tua conta e escreve oitenta’. E o mesmo ele fez com vários outros devedores. Assim esse administrador desonesto procurou fazer amigos para si próprio com vistas a depois que fosse dispensado da sua administração. E mesmo o seu mestre e senhor, quando subseqüentemente descobriu isso, foi levado a admitir que o seu administrador infiel tinha ao menos demonstrado sagacidade, pela maneira com que ele havia buscado prover-se para os dias futuros de carência e de adversidade.

“E é nesse sentido que os filhos deste mundo algumas vezes demonstram mais sabedoria na sua prevenção para o futuro do que os filhos da luz. Eu vos digo, a todos que professam estar adquirindo tesouros no céu: Tomai lições com aqueles que fazem amigos com as riquezas desonestas, e do mesmo modo conduzi as vossas vidas para que façais amizade eterna com as forças da retidão, para que, quando todas as coisas terrenas lhes faltarem, sejais recebidos com júbilo nas habitações eternas.

“Eu afirmo que aquele que é fiel nas coisas pequenas também será fiel nas grandes, enquanto aquele que não é reto nas coisas pequenas também não será nas grandes. Se não tiverdes demonstrado previsão e integridade nos afazeres deste mundo, como podereis esperar ser fiéis e prudentes quando lhes for confiada a administração das verdadeiras riquezas do Reino do céu? Se não fordes bons administradores e banqueiros fiéis, se não tiverdes sido fiéis naquilo que é dos outros, quem será tolo o bastante para colocar grandes tesouros no vosso nome?

“E novamente eu declaro que nenhum homem pode servir a dois senhores; ou bem ele odiará um deles e amará o outro, ou então ele ficará com um enquanto ao outro ele desprezará. Não podereis servir a Deus e às riquezas”.

Quando os fariseus que estavam presentes ouviram isso, eles começaram a zombar e a escarnecer, pois eram muito dados a adquirir riquezas. Esses ouvintes pouco amistosos tentaram implicar Jesus em uma discussão inútil, mas ele recusou-se a debater com os seus inimigos. Quando os fariseus caíram em altercações entre si, as suas vozes altas atraíram uma boa parte da multidão acampada nos arredores; e, quando começaram a disputar entre si, Jesus retirou-se, indo para a sua tenda passar a noite.

3. O HOMEM RICO E O MENDIGO

Quando a reunião tornou-se muito barulhenta, Simão Pedro, levantando-se, tomou o comando e disse: “Homens e irmãos, não é apropriado que discutais assim entre vós. O Mestre acabou de falar, e fazeis bem em ponderar as suas palavras. E o que ele proclamou a vós não é nenhuma nova doutrina. Não haveis ouvido sobre a alegoria dos nazaritas envolvendo o homem rico e o mendigo? Alguns de nós ouvimos João Batista bradar essa parábola de aviso àqueles que amam as riquezas e cobiçam os bens desonestos. E, ainda que essa antiga parábola não esteja de acordo com o evangelho que nós pregamos, todos vós faríeis bem em dar atenção às suas lições até a época em que compreenderdes a nova luz do Reino do céu. A história como João a contou foi assim:

“Havia um certo homem rico, de nome Dives, que, vestido em púrpura e em linhos finos, vivia os seus dias em luxo e esplendor. E havia um certo


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mendigo chamado Lázaro, que ficava no portão desse rico homem, coberto de feridas e desejando ser alimentado com as migalhas que caíam da mesa do rico homem; sim, até os cães vinham e lambiam as suas feridas. E aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para descansar no seio de Abraão. E então, em breve, esse rico homem também morreu e foi enterrado com grande pompa e em um esplendor régio. Quando o homem rico partiu deste mundo, ele acordou no Hades e, encontrando-se em tormento, levantou os olhos e viu Abraão longe e Lázaro no seu seio. E então Dives gritou alto: ‘Pai Abraão, tenha misericórdia de mim e envie Lázaro aqui para que ele possa molhar a ponta do seu dedo na água para refrescar a minha língua, pois estou em uma grande angústia por causa da minha punição’. E então Abraão respondeu: ‘Meu filho, devias lembrar que durante a tua vida tu desfrutaste das boas coisas, enquanto Lázaro sofreu o pior. Mas agora tudo isso mudou, vendo que Lázaro está confortado enquanto tu estás atormentado. E, além disso, entre nós há um grande abismo, de modo que não podemos ir a ti, nem tu podes vir a nós’. Então Dives disse a Abraão: ‘Eu oro para que envies Lázaro de volta à casa do meu pai, porquanto eu tenho cinco irmãos, para que ele possa testemunhar e impedir os meus irmãos de virem para este local de tormentas’. Mas Abraão disse: ‘Meu filho, eles têm Moisés e os profetas, que eles os ouçam’. E então Dives respondeu: ‘Não, não, pai Abraão! Mas se alguém for até eles saindo dos mortos, eles arrepender-se-ão’. E então disse Abraão: ‘Se eles não tiverem escutado Moisés e aos profetas, não serão persuadidos mesmo por alguém que ressuscite dos mortos’.”

Depois que Pedro contou essa antiga parábola da irmandade nazarita, e posto que a multidão tinha aquietado-se, André levantou-se e dispensou-os por aquela noite. Embora tanto os apóstolos quanto os seus discípulos freqüentemente fizessem perguntas a Jesus sobre a parábola de Dives e de Lázaro, ele nunca acedeu em comentar sobre ela.

4. O PAI E SEU REINO

Jesus sempre teve problemas ao tentar explicar aos apóstolos que, embora eles proclamassem o estabelecimento do Reino de Deus, o Pai nos céus não era um rei. Na época em que Jesus viveu na carne e ensinou na Terra, o povo de Urântia sabia que a maior parte dos reis e imperadores governavam as nações, e os judeus há muito contemplavam a vinda do Reino de Deus. Por essas e por outras razões, o Mestre achou melhor designar a irmandade espiritual dos homens como o Reino do céu e o dirigente espiritual dessa irmandade como sendo o Pai nos céus. Nunca Jesus referiu-se ao seu Pai como um rei. Nas conversas pessoais com os apóstolos, sempre se referia a si próprio como o Filho do Homem e como o seu irmão mais velho. Ele qualificava todos os seus seguidores de servidores da humanidade e de mensageiros do evangelho do Reino.

Jesus nunca deu aos seus apóstolos uma lição sistemática a respeito da personalidade e atributos do Pai no céu. Ele nunca pediu aos homens que acreditassem no seu Pai; ele tinha como certo que eles acreditavam. Jesus nunca se rebaixou para oferecer argumentos como prova da realidade do Pai. O seu ensinamento a respeito do Pai centrava-se todo na declaração de que ele e o Pai eram Um; que aquele que tinha visto o Filho, tinha visto o Pai; que o Pai, como o Filho, sabe todas as coisas; que apenas o Filho e aqueles para quem o Filho revela o Pai, realmente, conhecem o Pai; que aquele que conhece o Filho, também conhece o Pai; e que o Pai o enviou ao mundo para revelar as Suas naturezas combinadas e para mostrar


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a sua obra conjunta. Ele nunca fez outros pronunciamentos sobre o seu Pai, exceto para a mulher de Samaria no poço de Jacó, quando ele declarou: “Deus é espírito”.

De Jesus, vós aprendeis sobre Deus, observando a divindade da sua vida, não vos baseando nos seus ensinamentos. Da vida do Mestre, cada um de vós podeis assimilar o conceito de Deus que representa a medida da vossa capacidade de perceber as realidades espirituais e divinas, verdades reais e eternas. O finito nunca pode esperar compreender o Infinito, exceto como o Infinito foi focalizado na personalidade tempo-espacial da experiência finita na vida humana de Jesus de Nazaré.

Jesus sabia bem que Deus pode ser conhecido apenas pelas realidades da experiência; que Ele não pode nunca ser compreendido pelo mero ensinamento da mente. Jesus ensinou aos seus apóstolos que, embora eles nunca pudessem compreender Deus plenamente, eles poderiam conhecê-Lo com toda a certeza, do mesmo modo que tinham conhecido o Filho do Homem. Vós podeis conhecer a Deus, não pela compreensão do que Jesus disse, mas conhecendo o que Jesus foi. Jesus foi uma revelação de Deus.

Exceto quando citava as escrituras hebraicas, Jesus referia-se à Deidade por apenas dois nomes: Deus e Pai. E quando o Mestre fez referência ao seu Pai, como Deus, ele geralmente empregou a palavra do hebreu que significa o Deus plural (a Trindade) e não a palavra Yavé, que representa a concepção progressiva do Deus tribal dos judeus.

Jesus nunca chamou o Pai de rei, e ele lamentou muito que a esperança judaica de um reino restaurado e que a proclamação de um Reino vindouro feita por João tivessem tornado necessário a ele denominar a irmandade espiritual, por ele proposta, de Reino do céu. Com uma exceção – a declaração de que “Deus é espírito” –, Jesus nunca se referiu à Deidade de qualquer outra maneira além daquela cujos termos descrevem a sua relação própria pessoal com a Primeira Fonte e Centro do Paraíso.

Jesus empregou a palavra Deus para designar a idéia de Deidade e a palavra Pai para designar a experiência de conhecer a Deus. Quando a palavra Pai é empregada para denotar Deus, ela deveria ser entendida no seu significado mais amplo possível. A palavra Deus não pode ser definida e por isso representa o conceito infinito do Pai, enquanto o termo Pai, sendo capaz de uma definição parcial, pode ser empregado para representar o conceito humano do Pai divino, como ele está associado ao homem, durante o curso da existência mortal.

Para os judeus, Eloim era o Deus dos deuses, enquanto Yavé era o Deus de Israel. Jesus aceitou o conceito de Eloim e chamava de Deus a esse grupo supremo de seres. No lugar do conceito de Yavé, a deidade racial, ele introduziu a idéia da paternidade de Deus e da fraternidade mundial dos homens. Ele exaltou o conceito de Yavé, de um pai racial deificado, passando-o para a idéia de um Pai para todos os filhos dos homens, um pai divino do crente individual. E ele ainda ensinou que esse Deus dos universos e esse Pai de todos os homens eram uma única e a mesma Deidade do Paraíso.

Jesus nunca reivindicou ser a manifestação do Eloim (Deus) na carne. Ele nunca declarou que era a revelação de Eloim (Deus) aos mundos. Ele nunca ensinou que aquele que o tinha visto, tinha visto Eloim (Deus). Mas ele proclamou-se como a revelação do Pai na carne, e ele disse que todo aquele que o tinha visto, tinha visto o Pai. Como Filho divino ele afirmou representar apenas o Pai.


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De fato ele era o Filho até mesmo do Deus Eloim; mas, na semelhança da carne mortal e para os filhos mortais de Deus, ele escolheu limitar a revelação da sua vida a retratar o caráter do seu Pai, no que essa revelação pudesse ser compreensível para o homem mortal. No que diz respeito ao caráter das outras pessoas da Trindade do Paraíso, havemos de contentar-nos com o ensinamento de que elas são todas como o Pai, cujo retrato pessoal foi revelado na vida do seu Filho encarnado, Jesus de Nazaré.

Embora, na sua vida terrena, Jesus tenha revelado a verdadeira natureza do Pai celeste, ele pouco ensinou sobre Ele. Na verdade, ele ensinou apenas duas coisas: que Deus é, Ele próprio, espírito, e que, para todas as questões de relacionamento com as Suas criaturas, Ele é um Pai. Nessa tarde, Jesus fez o pronunciamento final da sua relação com Deus, quando ele declarou: “Eu vim do Pai, e eu vim ao mundo; e, novamente, eu deixarei o mundo e irei para o Pai”.

Atenção, todavia! Nunca Jesus disse que “Aquele que tiver ouvido a mim terá ouvido a Deus”. No entanto, ele disse: “Aquele que tiver visto a mim, terá visto o Pai”. Ouvir o ensinamento de Jesus não é equivalente a conhecer a Deus, mas ver Jesus é uma experiência que em si própria é uma revelação do Pai à alma. O Deus dos universos dirige a vasta criação, mas é o Pai nos céus que envia o Seu espírito para residir nas vossas mentes.

Na sua forma, à semelhança humana, Jesus é a lente que torna visível, para a criatura, a Ele, que é invisível. Jesus é o vosso irmão mais velho que, na carne, torna conhecido para vós um Ser de atributos infinitos a Quem nem mesmo as hostes celestes podem presumir compreender plenamente. Mas tudo isso deve consistir na experiência pessoal do indivíduo que crê. Deus, que é espírito, pode ser conhecido apenas como uma experiência espiritual. Deus pode ser revelado aos filhos finitos dos mundos materiais, pelo Filho divino dos Reinos espirituais, apenas como um Pai. Vós podeis conhecer o Eterno como um Pai; vós podeis adorá-Lo como o Deus dos universos, o Criador infinito de todas as existências.